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Ciência descobre o que o homem pré-histórico já sabia: cerveja tem tudo a ver com saúde

Há milhares de anos, nossos antepassados já imaginavam que a bebida feita de grãos fermentados trazia outros benefícios, além de euforia.  - Thinkstock
Há milhares de anos, nossos antepassados já imaginavam que a bebida feita de grãos fermentados trazia outros benefícios, além de euforia. Imagem: Thinkstock

Joana Santana

Do UOL, em São Paulo

28/09/2012 20h51

Há tempos se sabe que uma taça de vinho por dia faz bem à saúde. De uns anos para cá, diferentes estudos realizados por renomadas instituições têm sido publicados no mundo inteiro indicando que o consumo regular e moderado de cerveja também traz uma lista de benefícios.

Já existe até o CICS, Centro de Información Cerveza y Salud, uma entidade científica destinada a investigar suas propriedades nutricionais e como tomá-la todo dia um pouquinho pode contribuir para o nosso bem-estar. Foi o CICS que comprovou, por exemplo, que desde que respeitadas as quantidades, cerveja não provoca aumento de peso nem altera a composição corporal. Trocando em miúdos: nem engorda, nem dá barriga!

Para Cláudia Talan Marin, nutricionista especialista em metabolismo e nutrigenômica, “a cerveja pode ser considerada uma bebida saudável, já que é 93% água e o restante são cereais como cevada maltada, lúpulo e trigo. Ela é rica em vitaminas, principalmente as do complexo B, polifenóis, fibras solúveis e minerais como potássio e magnésio, e pobre em sódio, lipídios e açúcares. Com isso, ela ajuda a aumentar o bom colesterol e diminuir o ruim, diminui a incidência de derrames e infartos e auxilia na prevenção de diabetes, osteoporose, formação de pedras nos rins e na vesícula e até de alguns tipos de câncer”.

Como a Cerveja Salvou o Mundo

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No documentário “Como a Cerveja Salvou o Mundo”, do Discovery Channel, Betsy Bryan, egiptóloga da universidade americana Johns Hopkins, afirma que a cerveja era a base da alimentação no Egito Antigo, o salário dos trabalhadores das pirâmides e um remédio poderoso. Prova disso é que George Armelagos, antropólogo da Emory University, encontrou traços de tetraciclina (moderno antibiótico presente nas receitas de cerveja da época) em ossos mumificados de três mil anos de idade. A descoberta chocou cientistas, já que o primeiro antibiótico, a penicilina, só foi desenvolvido por Alexander Fleming em 1928.

Na Europa Medieval, quando a peste, a guerra e a água contaminada dizimavam as populações, os monges que fabricavam e tomavam apenas cerveja, passaram a recomendar aos cristãos que fizessem o mesmo. Milhares de vidas foram salvas sem saber que o ato de ferver a água é que operava o milagre.

 

Beba com moderação

A nutricionista explica que há uma extensa bibliografia sobre essas qualidades, todas comprovadas por diversas pesquisas. Mas faz questão de frisar, no entanto, que a dose considerada terapêutica pela ciência é de 250ml a 350 ml por dia, ou seja, entre um copo e uma latinha. “Não adianta a pessoa tomar mais do que isso, achando que vai aumentar os benefícios, ou não tomar nada durante a semana e compensar tudo sábado e domingo. Não é assim que funciona”, alerta, complementando que “a ingestão de cerveja, mesmo que dentro deste limite, também não garante a imunidade a essas doenças”.


“A cerveja não é muito diferente do vinho nos aspectos positivos do consumo regular e moderado sobre a saúde, sendo que as qualidades do tanino equivalem às do lúpulo”, compara Marcelo Cury, cirurgião vascular. “O Brasil ainda não tem pesquisas científicas relevantes sobre esse assunto, talvez até por certo preconceito”, acredita. “Na Alemanha e na República Checa, países de tradição cervejeira, a maioria dos estudos de saúde pública tem esse foco”. Mas ainda há quem torça o nariz.

 “Embora representem fortes evidências de que a cerveja pode ser considerada uma boa fonte desses elementos, os resultados dos últimos estudos não são uma conclusão final”, ressalva Ademir Lopes Júnior, médico e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. “De qualquer forma, o que todas as pesquisas têm reforçado é que o melhor cardápio é aquele que contém todos os grupos alimentares, a partir de fontes variadas, incluindo as bebidas alcoólicas, consumidos sempre com moderação”.

De acordo com Cury, o que a ciência já comprovou é que, quando consumida regular e moderadamente, a cerveja diminui de 30% a 40% o risco de infarto agindo em várias frentes. “Além de aumentar o bom colesterol, ela previne a formação de coágulos que podem entupir vasos, reduz a resistência à insulina e tem ação anti-inflamatória” enumera. “Os agentes antioxidantes presentes na cerveja devido ao lúpulo e à cevada maltada são rapidamente absorvidos pelo organismo, reforçando o combate aos radicais livres. E, para os vegetarianos, pode ser uma boa fonte de vitamina B12, presente principalmente na carne de vaca”.

Além dessa série de benefícios, a cerveja também é relativamente pouco calórica: cerca de 40 calorias a cada 100ml. Mas é claro que nem todos os bons motivos para se tomar uma cerveja estão descritos em alguma bula. Para liberar de vez a happy hour, o dr. Lopes Júnior lembra que “também não se pode ignorar a característica social da cerveja, uma das bebidas preferidas do brasileiro, e que é parte importante das comemorações das famílias e da confraternização entre as pessoas”.