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Cerveja como obra de arte: panorama da bebida na pintura

A colheita (1565), de Pieter Bruegel L´Ancien, faz parte do acervo do The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, Estados Unidos - Divulgação
A colheita (1565), de Pieter Bruegel L´Ancien, faz parte do acervo do The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, Estados Unidos Imagem: Divulgação

Cilene Saorin

do UOL, São Paulo

01/11/2012 07h00

Você já parou para pensar que tudo que comemos e bebemos pode influenciar na maneira como percebemos, interagimos e nos expressamos diante do mundo? Essa pergunta parece uma maluquice, mas quando observamos diferentes expressões de arte, como pintura, escultura, música, literatura e cinema, por exemplo, o que vemos são exatamente essas questões oferecidas pelo olhar do artista.

A cerveja inspira a arte e há muito tempo.Em meados dos anos 1.500, os pintores Pieter Bruegel L'Ancien, da Bélgica, e Pieter De Hooch, da Holanda, mostravam os grãos das terras do norte e o hábito das cervejas. Da mesma forma, no século 17, as obras dos holandeses Pieter Claesz, Jan Jansz van de Velde e Rembrandt, com a tela 'Autorretrato com sua esposa Saskia' (1636), exibiam as cervejas em lindos retratos e naturezas-mortas.

No século 19, enquanto Tompkins Matteson pintava a colheita dos lúpulos nos Estados Unidos, Eduard von Grützner e Adolph von Menzel representavam em telas os monges cervejeiros e as "biergarten" da Alemanha. Na França em ebulição, do final do século 19 ao início do século 20, as cervejas aparecem festivas nas obras impressionistas de Édouard Manet, Edgar Degas e Auguste Renoir, e também nas publicidades charmosas e inovadoras do estilo art nouveau de Alfons Mucha e Adolfo Hohenstein.

Em outro marcante movimento da época, as cervejas dão cor à introspectiva fase azul e depois à genial fase cubista do espanhol Pablo Picasso. Seu conterrâneo Juan Gris também pintou espumas, influenciado pelo cubismo. Nos idos de 1920, os franceses Fernand Léger, do modernismo pós-guerra, e Marcel Gromaire, do realismo social, pintaram com elegância as pessoas e as cervejas do cotidiano.

"Por certo, são as cervejas vistas com um olhar mais profundo, cuidadoso e belo", diz Julio Landmann, conselheiro da Fundação Bienal de São Paulo e vice-presidente do conselho administrativo da Associação Pinacoteca Arte e Cultura. Ele lembra ainda que alguns artistas brasileiros também se inspiraram nas cervejas retratando suas interferências na sociedade, como no caso de Arcangelo Ianelli em seu quadro 'Fábrica da Brahma' (1957), cujos traços já sinalizavam os avanços industriais da cidade. “Um importante e premiado pintor brasileiro que morava ‘com vista’ para a fábrica”, comenta Landmann, com desvelado carinho pelo amigo."Sugiro também a obra irreverente do artista brasileiro contemporâneo Claudio Tozzi, intitulada 'Eu bebo chop, ela pensa em casamento' (1968), que certamente contribuiu para a pop art no Brasil", completa Landmann.

Para o crítico e curador de artes visuais Paulo Klein, desde os monastérios medievais até os ateliers modernos de artistas contemporâneos, a cerveja tem sido uma das bebidas preferidas. "Se a disputa fosse medida em barris, ficaria fácil atribuir a essa rica bebida um lugar de honra", brinca Klein.E como dedicado apreciador da boa gastronomia, completa: "Tomando uma cerveja artesanal com toques de rosa, cravo e gengibre, fico imaginando o que seria das artes sem essa preciosa bebida. Assim como o vinho e, em alguns casos, o absinto, a cerveja também foi aditivo importante para mover as artes plásticas".

Com base nesse acervo, conclui-se que é pela mão dos artistas que são retratados a origem, o desenvolvimento e o sentido das cervejas na vida humana desde a Antiguidade até nossos dias. Uma bebida essencial à mesa que inspira seres humanos de todas as épocas e de todo o mundo, o que certamente (para nossa sorte) nunca mudará!