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Leigas e especialistas derrubam o mito do paladar femino e gostam de cerveja amarga

A mestre-cervejeira Kathia Zanatta acredita que paladar é questão de costume - Divulgação
A mestre-cervejeira Kathia Zanatta acredita que paladar é questão de costume Imagem: Divulgação

Júlia Santos

do UOL, São Paulo

04/12/2012 12h00

Homens e mulheres têm uma série de diferenças físicas entre si, mas o aparelho sensorial é semelhante. Mesmo assim cervejarias destacam produtos mais frutados ou doces, que prometem agradar mais o paladar feminino. Essa separação, baseada em um perfil de consumo distinto entre os sexos, divide opiniões das cervejeiras de carteirinha.

Segundo Kathia Zanatta, sommelier e mestre-cervejeira, há diferenças sociais que mudam a aceitação das cervejas entre homens e mulheres. "Elas geralmente se expõem menos ao amargo, começam a beber com drinks ou batidas, e o homem acostuma mais com o sabor porque consome bebidas amargas mais cedo", acredita.
 
Cervejas fora do comum foram as que cativaram Vivian Balsinelli, que dizia não gostar da bebida três anos atrás, até que experimentou um rótulo de cerveja escura com chocolate na receita. Hoje ela é sommelier formada e dona de um empório que vende rótulos importados. "As mulheres ainda são diferentes dos homens. Na loja elas preferem as cervejas mais ácidas ou frutadas. Hoje eu gosto das amargas, mas aprendi bebendo", conta.

Os homens consomem cinco vezes mais cervejas e destilados do que as mulheres, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas isso não quer dizer que elas não entendem da bebida. "Os homens bebem em maior quantidade, mas as mulheres não podem ser generalizadas e não são florzinhas", protesta Bia Amorim, que também se formou como sommelier de cervejas recentemente. Para ela, a separação do paladar é sexista. "Por conta desses folclores tem muito homem que não toma drink em taça de Martini", diz.

Se não existe um paladar feminino definido biologicamente, também é lenda que elas têm o olfato e outros sentidos mais apurados. "O que acontece é que muitas vezes mulheres exercitam mais isso socialmente. Cozinham mais ao longo da sua criação, por exemplo", explica Zanatta.

Cervejas com toque feminino
Há quatro anos Karina Garrido resolveu produzir cerveja em casa para adequar a bebida ao seu gosto pessoal. Criou dez rótulos com adição de flores na receita, as Lady Flowers. "Consegui me diferenciar por ter dado um toque feminino, sem que elas deixem de ter sabor de cerveja", relata ela, que também vende malte e outros ingredientes para a fabricação caseira da bebida.  "Quando entrei nesse universo não tomava cerveja amarga. Mas também vejo muitos homens reclamarem que a India Pale Ale, que é uma cerveja lupulada, um chá de boldo", compara.

A Cervejaria Nacional, em São Paulo, acaba de convidar duas mulheres para sugerir alterações em receitas da casa para o verão. A sommelier Carolina Oda incluiu shissô, especiaria japonesa, na tradicional Pilsen. Já Kathia Zanatta ficou responsável pela cerveja de trigo: adicionou jasmim e deixou-a mais seca e menos frutada.
 
Uma coisa é certa e independe de paladares. As mulheres estão ganhando espaço no mercado de cervejas. Deixaram de ser destaque de biquíni na publicidade para serem consumidoras de respeito.