Topo

Cerveja protagoniza cenas antológicas no cinema

Cilene Saorin

do UOL, São Paulo

09/01/2013 07h00

Em meados do século 18, na Alemanha, o compositor Johann Sebastian Bach finalmente recebia o reconhecimento da nobreza. Certo dia, recebeu uma encomenda feita pelos camponeses, que normalmente não tinham dinheiro para isso. Achando o pedido inusitado, Bach compôs a tal música, mas não agradou o cliente. Para evitar o mal estar, um dos camponeses lhe convida para uma tomar uma cerveja e justifica: "Assim não nos despedimos em briga". 

Trailer do documentário "Cerveja Falada"


Este trecho da minissérie alemã "Bach – O Mestre da Música", de 1985, mostra como a cerveja não só inspira diretores e cineastas, mas muitas vezes protagoniza cenas de clássicos da sétima arte. O ator e dançarino Fred Astaire também revela seu apreço à bebida na comédia musical americana "The Band Wagon", de 1953, quando canta "I Love Louisa", cujos versos dizem "como eu amo um copo de cerveja" e "cerveja vai bem com mais cerveja".

Dudu Toledo, diretor de vídeos e sócio da Cervejaria Nacional, em São Paulo, lembra ainda dois filmes que vão direto ao ponto. "O documentário "Cerveja Falada", de Guto Lima, Luiz Henrique Cudo e Demétrio Panarotto, tem apenas 15 minutos, mas resgata com méritos o personagem mítico Rupprecht Loeffler, cervejeiro que ficou à frente de uma das mais antigas cervejarias artesanais do país, a Canoinhense", conta Dudu.

  • Arquivo Pessoal

    Diretor de vídeo e sócio da Cervejaria Nacional, Dudu Toledo sugere o documentário 'Cerveja Falada'

Loeffler viveu boa parte de seus 93 anos dedicando-se à produção de cerveja bem caseira. "Infelizmente não tive o privilégio de conhecê-lo, mas muitos amigos tiveram e me transmitiram a energia desta figura", completa.

De Spielberg a James Bond
O outro filme lembrado por ele é a trama holandesa de ação e suspense "De Heineken Ontvoering", dirigida por Maarten Treurniet. O filme se passa em 1983 e narra a história do sequestro mais famoso da Holanda, do empresário Alfred Heineken, dono da cervejaria homônima, que ficou em poder de sequestradores por três semanas. "Nessa época, sua gestão estava numa fase áurea por conta do sucesso da marca e da expansão global da marca. Já assisti ao trailer e agora estou à espera do longa em português", finaliza, ansioso.

  • Arquivo Pessoal

    Cassio Piccolo é cinéfilo e dono do bar Frangó, em São Paulo, SP

Para Cassio Piccolo, cinéfilo inveterado e proprietário do Bar Frangó, em São Paulo, a indústria cinematográfica já produziu muitos filmes em que a cerveja é mais que um mero objeto de cena. "Em "Encurralado", de Steven Spielberg, a cena do bar onde há vários homens bebendo é emblemática. A câmera passeia pelo ambiente até encontrar um cartaz pendurado com vários tipos de copos de cerveja. E a pergunta é: qual desses copos é o motorista que dirige o caminhão?", lembra Cassio, já se divertindo com o desfecho.

Recentemente, até mesmo o mítico e cinquentão James Bond, que sempre bebeu Dry Martini e champanhe, se rendeu pela primeira vez ao sabor de uma cerveja em seu último filme "007 – Operação Skyfall". "Apesar da publicidade evidente, a cena é pertinente porque ele está numa praia. Sinal dos tempos!", brinca Cassio.

"Mas é em "Um Sonho de Liberdade", filme de 1995 com Tim Robbins e Morgan Freeman que a cerveja merece um Oscar!", acredita. Na sequência em questão, prisioneiros exaustos trabalhando sob um sol escaldante assistem enquanto um colega negocia umas garrafas de Bohemian Pilsener com os guardas. "É uma cena antológica e emocionante. Para mim, simboliza exatamente o essencial da bebida: o relaxamento, o mudar de frequência, o não se render ao peso das condições mais adversas e, acima de tudo, a esperança", arremata. É, enfim, a hora do 'Eu mereço!'.