Topo

Ogrostronomia: homens se unem na onda da cozinha de sustância

Wagner Silva

Do UOL, em São Paulo

17/01/2013 16h36

Culinária simples, bem temperada, cheia de sustância, que pode ou não requerer habilidade. Porções pequenas, pratos light e de poucas calorias para eles não existem. O que interessa mesmo é o prato cheio.

Este é o lema do site Ogrostronomia, site fundado no Rio de Janeiro por cinco amigos que produzem programas de culinária na internet em que o forte, como o próprio nome diz, é a “culinária ogra”. O cenário varia entre varandas, churrasqueiras e minicozinhas, onde eles se esbaldam e passam seus ensinamentos. O cardápio também é amplo e sem muitas regras - inclusive de medidas de ingredientes- com batatas, carnes, e pratos calóricos. Até receitas mais elaboradas, como o tradicional cassoulet, fazem parte das “aulinhas”.

“O site nasceu de uma brincadeira e acabou virando coisa séria”, diz o americano nascido no Texas Jimmy McManis, 42. Para ele e os companheiros, qualquer pessoa pode cozinhar à maneira deles. “Se nós 'ogros' conseguimos cozinhar razoavelmente bem, não tem por que outros não conseguirem. Daí vem o nome: juntamos ogro + gastronomia”, conta.

Apaixonado por comida desde criança, quando aprendeu a cozinhar com a mãe, Jimmy é o único dos "ogros" que possui mais familiaridade com o tema: tem vários cursos de gastronomia no currículo e já participou do reality show “Jogo de Panelas”, do programa “Mais Você”, da TV Globo.

Como não existe coerência entre as preferências do grupo, cada um cozinha do seu jeito. Prova disso é o publicitário Betho Alves, 26, um iniciante na culinária que registra os vídeos da turma e já fala com toda propriedade sobre o assunto. “Temos gostos e personalidades diferentes e seguimos linhas distintas na cozinha, mas concordamos que não existe fórmula certa para fazer comida”, sentencia.

Recentemente, o quinteto passou a organizar almoços e jantares temáticos em restaurantes de amigos no Rio de Janeiro, num pequeno aquecimento para montar seu próprio restaurante. “Hoje, estamos produzindo gastronomia de verdade. O volume de vídeos que gravamos diminuiu, mas em compensação, estamos vivenciando a experiência de cozinhar para mais pessoas”, festeja o publicitário Guto Senra, 36.

80% do prato

Outro fã de comidas cheias de sustância, André Barcinski, colunista e crítico da Folha de São Paulo, listou em “Guia da Culinária Ogra - 195 lugares para comer até cair”, locais de muita fartura e bons preços, ou, como diz, “aqueles estabelecimentos onde a comida ocupa mais de 80% da área do prato”.

Dividido por regiões da cidade de São Paulo, o guia traz sugestões de botecos e restaurantes de diversos estilos, que incluem comida árabe chinesa, japonesa, nordestina e italiana, além de PF (prato feito), lanches e petiscos.

O roteiro nasceu da série de textos que o autor fez em seu blog, onde indica lugares bons e baratos para comer. Fez tanto sucesso que chamou a atenção da editora Planeta no ano passado. “Na verdade, o guia é resultado de mais de 15 anos comendo na rua,” revela Barcinski, que já planeja uma nova edição. “Recebo dezenas de sugestões, a maioria de lugares que não conheço e que vou experimentar”.

Essa cozinha simples e acessível faz parte de uma nova geração de “chefs”, diz ele. “Acho muito legal o pessoal do Ogrostronomia e o Paulo Tiefenthaler, do 'Larica Total'", programa pioneiro do gênero, exibido no Canal Brasil. “Os vídeos do Paulo são muito engraçados e até um idiota na cozinha, como eu, consegue fazer aquelas receitas”, comenta.

Na mesma onda, os publicitários Marcelo Bruzessi e Fernando Calvache, criaram o PF Week. No site, a dupla avalia casas da capital paulista em busca do melhor prato-feito por até R$ 15 (com bebida inclusa). Para Bruzessi, o "PF" perfeito tem que chegar rápido, corresponder à expectativa de sabor e quantidade (ou seja, ser farto) e ter gosto de “comida da vó”.

Segundo o autor, a ideia de avaliar a chamada “baixa gastronomia” surgiu durante o Restaurante Week -evento gastronômico em que restaurantes oferecem menus a preços fixos durante uma semana. Os dois gastaram além da conta para comer em diversos lugares e tiveram que frequentar os “PFs” pelo resto do mês.

Desde setembro de 2012, eles já visitaram mais de 30 estabelecimentos em São Paulo. Para Barcinski, qualquer iniciativa que divulgue restaurantes bons e baratos é bem-vinda. “Comer fora no Brasil está ficando um absurdo de caro. Serviços e programas como estes salvam o estômago e o bolso de qualquer um”.

Serviço:
"Guia da Culinária Ogra – 195 Lugares para comer até cair"
Autor: André Barcinski
Editora: Planeta
Páginas: 112
Preço: R$ 22,90