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Fotos de comida fazem sucesso nas redes e dividem opinião de chefs

Mariana Poloni  fez curso de fotografia e comprou uma câmera semiprofissional para registrar pratos - Marcelo Regua/UOL
Mariana Poloni fez curso de fotografia e comprou uma câmera semiprofissional para registrar pratos Imagem: Marcelo Regua/UOL

Lígia Nogueira

Do UOL, em São Paulo

06/05/2013 14h46

Fotografia e comida nunca estiveram tão próximas. Graças a redes sociais como o Instagram, acessíveis por meio de smartphones, postar fotos de pratos na internet virou febre. A possibilidade de usar filtros para tornar as imagens mais atraentes e a resposta imediata dos seguidores alimentam a tendência que começa a gerar polêmica. Enquanto alguns restaurantes, como o Momofuku Ko, em Nova York, estão proibindo o uso de celulares e câmeras pelos clientes, outros estabelecimentos, como a Taberna Del Gourmet, que faz parte do Grupo Gourmet, da Espanha, oferecem cursos para quem quiser aprender a fotografar os pratos.

No Brasil, a mania se espalhou de tal maneira que há até um novo aplicativo, o Sharefood. Criada por brasileiros, a ferramenta permite que os foodies (apelido dos aficionados por comida e bebida) compartilhem fotos de comida com uma breve descrição dos pratos. Além disso, é possível postar receitas completas, dizer se o prato foi aprovado ou não e ainda marcar o local onde está. Assim, outros usuários poderão saber se o estabelecimento é recomendável ou não.

Indicar restaurantes aos amigos foi o que motivou o engenheiro Fábio Jae Kyu Moon, 25 anos, a criar uma conta no Instagram. Conhecido na rede como @Fabmoon, ele se tornou uma referência quando o assunto é fotografia de comida. Moon começou a usar o aplicativo há quatro ou cinco anos e já reúne mais de 3.500 fotos. “Os amigos sempre me pediam dicas de lugares para comer. É difícil explicar a composição de um prato apenas falando. Com fotos fica muito mais fácil”, afirma o paulistano, que come fora no mínimo 14 vezes por semana e nunca calculou o quanto gasta com isso.

“Ao longo dos anos visitei praticamente todos os restaurantes mais famosos de São Paulo e conheço os menus de cabo a rabo. Acho que o diferencial da dica que posso oferecer aos meus amigos e conhecidos é que tenho um leque muito grande”, assegura Moon. Ele conta que já recebeu convites de vários restaurantes por conta da sua popularidade no Instagram, mas recusou. “Eu não me sentiria à vontade em comer estando implícito que é cortesia da casa”, diz.

Fábio Moon faz parte de um grupo de privilegiados que viaja pelo mundo para comer. Recentemente ele esteve em Tóquio, no Japão, e em Roma, na Itália. Os registros gastronômicos foram devidamente postados nas redes sociais. Com a fama conquistada entre seus mais de 2.300 seguidores, Moon está planejando ganhar dinheiro com isso. “Estou com um projeto relacionado a restaurantes que será lançado este ano”, diz, sem revelar mais detalhes.

A possibilidade de compartilhar o que está experimentando também atraiu a dentista Mariana Ushli Poloni, 30 anos, de Niterói. Ela fez curso de fotografia e uniu as duas paixões ao criar um perfil no Instagram. Mariana também mantém um blog, o “Le Pitanga”, em que geralmente posta fotos e textos sobre restaurantes. Para conseguir o melhor clique, “pagar alguns micos” faz parte. “Sacar uma câmera semiprofissional num restaurante famoso, na presença de chefs e críticos, num jantar exclusivo para 15 pessoas, não é uma coisa que passa batido. Hoje tiro isso de letra, até tieto chef, peço autógrafo, foto”, conta.

A designer Denise Aires, 29 anos, moradora de São Paulo, tem o hábito de registrar os pratos que prepara em casa. “Acho esteticamente bonito”, diz. “Também adoro fotografar feijoada de boteco. As cores me agradam muito. Assim como a comida japonesa, não tem como ficar feio”. Ela conta que já chegou a subir nas cadeiras e até na mesa em busca do clique perfeito. “Mas acho que o pior é deixar a comida esfriar por causa da foto.”

“Gastroesnobes”

Para Ailin Aleixo, autora do blog “Gastrolândia”, frequentar restaurantes, especialmente os caros, se tornou uma maneira de demonstrar status. “Esse luxo, ao contrário de outros como roupas ou carros, é acessível para a classe média. Logo, postar fotos de pratos bonitos é uma maneira de demonstrar poder. Alguns internautas fazem parte de um grupo que uma amiga apelidou de ‘gastroesnobes’. Pessoas que postam fotos de sushis de R$ 60 ou vinhos de R$ 5 mil. É a versão gastronômica das blogueiras de moda e seus looks entupidos de dígitos”.  Para Ailin, no fim das contas, todo mundo é formador de opinião, em algum nível. Seja para os amigos, a família ou a turma da academia. As redes sociais só deram mais força para isso.

No Brasil alguns restaurantes estão aproveitando a onda dos “formadores de opinião das redes sociais” para estreitar o relacionamento com os clientes. É o que acontece na Vinheria Percussi, de São Paulo, que costuma publicar em suas páginas nas redes sociais as fotos tiradas pelos frequentadores. “Essa é uma tendência que não tem mais volta”, diz Silvia Percussi, chef e sócia da casa. “Queremos atrair o público jovem, que é o que mais usa essas técnicas de comunicação.”

Para Gabriela Sampaio, que monitora as redes sociais da Vinheria Percussi e também do Le Vin, marcar presença nesses meios é uma forma de mostrar ao público jovem que o restaurante não está parado no tempo. “No Instagram, ao clicar em um prato da Vinheria e localizá-lo em nosso endereço, podemos verificar se tudo deu certo e reutilizar a foto feita pelo cliente”, diz.

Carlos Bertolazzi, chef dos restaurantes Zena Caffé, Spago e Per Paolo, de São Paulo, diz não ser contra os clientes que fotografam pratos. “Pelo contrário, incentivo e também faço. Mas para não incomodar basta ter bom senso. Não acho legal sair logo fotografando. Primeiro entenda onde você está e quem está e depois veja a melhor maneira de fazer seus cliques. Nada de câmeras potentes, luzes...Tente não chamar muita atenção. Deixe isso para os profissionais”, aconselha o chef.

Para ele, a divulgação nas redes sociais pode ajudar a casa. “Se você faz um bom trabalho, acredito que as fotos ajudam a divulgar o restaurante. Claro que nem todos farão uma boa foto, mas faz com que estejamos ainda mais preocupados com a apresentação e o sabor dos pratos. Ninguém quer aparecer mal na foto”, diz.

A chef Roberta Sudbrack, dona do restaurante Roberta Sudbrack, no Rio de Janeiro (RJ), também é a favor das fotos. “Não proíbo, mas me angustia saber que aquele prato que preparamos com tanto cuidado perca o seu frescor por ter de esperar o shot perfeito”.  Para a chef, as fotos dos clientes inclusive ajudam a manter o padrão da cozinha quando ela está viajando. “Vejo as imagens e ligo para a cozinha dizendo que isso ou aquilo está errado e pode melhorar. Por exemplo, o peixe está sem brilho, o pão deve estar mais moreno ou o molho da carne está muito grosso! É uma loucura, mas me ajuda muito!”

Em qualquer caso, o bom senso é o melhor termômetro. “Acho que usar flash em restaurante é algo bem deselegante: ninguém gosta de tomar uma luz na cara no meio da garfada do seu risoto”, alerta Ailin Aleixo. “Exceto isso, não vejo problema algum em clicar pratos ou bebidas e fico bem indignada quando conheço chefs que acham que isso é um desrespeito. Até o quadro da Monalisa pode ser fotografado, minha gente! Cada um aproveita sua refeição como quer.”

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