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Saiba de onde vêm as louças usadas por chefs da ficção e da vida real

Larissa Januário

DO UOL, em São Paulo

26/06/2013 07h00Atualizada em 17/02/2016 21h25

Depois de Nina, de "Avenida Brasil", e do chef René Velmont, de "Fina Estampa", o chef da vez da novela das oito é Niko, personagem de Thiago Fragoso, que comanda um restaurante japonês na trama "Amor à Vida". Como a arte imita a vida, a produção da novela buscou inspiração nas louças dos chefs reais para recriar um ambiente fiel no folhetim.

As louças apresentadas na novela são as mesmas que alguns dos renomados cozinheiro brasileiros usam para servir seus clientes. A responsável, a ceramista paulistana Hideko Honma, foi procurada pela produção da Rede Globo para criar peças especialmente para as cenas.

“Eles nos acharam pela internet, vieram aqui, disseram o que precisavam e eu criei em cima das coordenadas”, conta a artista. Ela revela ainda que teve total liberdade criativa. “Eles só determinaram a quantidade e a finalidade das peças, mas na parte estética não interferiram”, conta Hideko, que atende restaurantes como Amadeus, da chef Bella Masano e Clos de Tapas, da chef Ligia Karazawa, ambos de São Paulo.

“Fazemos um trabalho em parceria com os chefs. Eles me procuram antes mesmo de criarem os pratos e fazemos tudo junto. Inclusive dou palpites nas receitas e na apresentação”, brinca Hideko que se considera uma gourmand. “Não cozinho, mas como fora pelo menos uma vez por semana e adoro viajar para comer”, justifica a artista.

Japão, o centro da porcelana

Hideko tem formação em artes plásticas e história da arte, mas para se aprofundar na confecção de cerâmica teve que viajar até o Japão, mais especificamente para a cidade de Arita, o centro japonês da porcelana. “Meu pai, que nasceu lá, conseguiu uma indicação para que me recebessem para cursos. Já fui cinco vezes, sempre em temporadas de três meses de imersão”, revela a ceramista que está contente com as suas louças estrelando a novela.

É de Arita também que o chef Tsuyoshi Murakami, do restaurante de alta cozinha japonesa Kinoshita, em São Paulo, traz suas louças. “Todos os anos viajo pra lá para escolher uma nova coleção. Existe uma infinidade de artistas, um ao lado do outro. Muitas vezes monto o menu de forma orgânica à  escolha das louças”, conta.

Murakami chega a trazer cerca de 3 mil peças por coleção. Não por acaso, já que essa é a cidade onde foi encontrada a primeira jazida de porcelana do Japão. “É lá que se faz até hoje a cerâmica branca e azul dos palácios imperiais japoneses”, complementa Hideko.

Outra queridinha dos chefs é a ceramista Gisele Gandolfi, do Ateliê Muriqui. Há sete anos, a então profissional do mercado financeiro decidiu acompanhar a chef e amiga Ana Luiza Trajano na expedição Saberes do Brasil. Desta viagem nasceu o restaurante Brasil a Gosto e com ele o ateliê que forneceria suas louças. “Até então eu fazia cerâmica por hobby, mas a parceria com a Ana exigiu profissionalização e escala. Hoje atendemos não só ela, como diversos outros chefs”, revela.

No portfólio do Muriqui estão nomes como Bel Coelho (Clandestino), Rodrigo Oliveira (Mocotó), Jefferson Rueda (Attimo) e o especialista em cafés Ensei Neto, para quem fez uma xícara especial. “Buscamos trabalhar não só a estética como também a ergonomia e a forma que ajudam a melhorar a experiência à mesa. Temos uma preocupação inclusive com as texturas”, conta Gisele, que como a Hideko, trabalha em parceria criativa com os chefs de cozinha.

Diferente do Japão, que é fonte de porcelana, no Brasil a matéria prima predominantemente usada na confecção das louças é a argila. Tanto Gisele quanto Hideko trabalham com o barro local e pigmentos derivados de produtos nacionais. “Essa é a filosofia básica da cerâmica oriental, usar os recursos que se tem à mão”, explica Hideko. "Eu utilizo a técnica oriental aplicada à nossa realidade brasileira", completa.