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Vinhos orgânicos, naturais e biodinâmicos: entenda a diferença entre eles e os rótulos convencionais

Ana Maiellaro

Do UOL, em São Paulo

29/06/2013 09h00

A tendência de consumir alimentos orgânicos, aqueles produzidos sem agrotóxicos, só cresce. No universo vinícola não poderia ser diferente, com apostas cada vez maiores nos denominados vinhos orgânicos, naturais e biodinâmicos, todos produzidos sem aditivos químicos.

Países tradicionalmente viticultores, como Espanha, França e Portugal, vêm investindo muito nessa vertente nos últimos anos. Mas o que faz um vinho orgânico de fato?

Qualquer tipo de vinho pode ser produzido sem pesticidas, sejam tintos, brancos, espumantes ou fortificados. Os considerados orgânicos são aqueles elaborados exclusivamente com uvas que não receberam agrotóxicos, pesticidas, herbicidas.

Já os biodinâmicos e naturais vão um pouco mais além, com a obrigatoriedade no uso de frutas livres de aditivos e o mínimo de intervenção possível na vinificação. “Nesses casos, o vinicultor trabalha com os solos para que ganhem vida”, afirma a sommellière Carolina Escobar. É comum também a observação dos ciclos naturais, inclusive a posição dos astros, para conduzir as plantações, além do uso de compostos naturais para fortalecer o solo e proteger as videiras das pragas.

Ou seja, neste tipo de vinho, opta-se por leveduras selvagens ou indígenas -presentes naturalmente nas cascas das uvas- e abre-se mão de uma série de recursos utilizados nos vinhos convencionais, como enzimas, corretores de acidez e o onipresente anidrido sulfuroso, o SO2, um potente conservante que, em excesso, dificulta o trabalho do fígado na degradação do álcool. “Nos biodinâmicos e naturais, o uso de SO2 é mínimo ou inexistente”, diz Marco London, idealizador da importadora Bionysos, do Rio de Janeiro.

Sustentabilidade e Conservação
No paladar e na aparência, a diferença entre rótulos convencionais e aqueles sem aditivos não é necessariamente nítida –com exceção dos naturais, que costumam ser turvos, por não passarem por filtragem. “A maneira como os orgânicos em geral são produzidos faz com que sejam uma tradução sem filtro do terroir (lê-se terroá, conjunto das características de uma determinada parcela de terra que transmite originalidade e qualidade ao vinho).

É uma delícia degustar vinhos puros, sem agrotóxicos”, diz Carolina. Como bônus, esse tipo de produção está alinhada com o conceito de sustentabilidade e preservação do planeta. “O agricultor não precisa de máscaras e luvas para manipular suas plantas, já que o meio ambiente fica livre de substâncias tóxicas. É vida para todos nós, sem contaminação”, lembra a sommelière.

Se tiver dúvidas sobre a autenticidade das bebidas, é só observar o rótulo: todos os orgânicos, biodinâmicos e naturais costumam apresentar selos de certificação bem visíveis.

E, para os que ainda não se convenceram, os profissionais lembram que o pouco (ou nenhum) uso de anidrido sulfuroso nesse tipo de vinho causa menos dor de cabeça.

Mito de vinho caro
Por aqui, o consumo desse tipo de bebida ainda é novidade, mas cada vez mais os enófilos têm apostado nessa tendência, auxiliados por importadoras e especialistas que pesquisam e apresentam ao mercado uma variedade cada vez maior de orgânicos.

A sommelière Carolina Escobar é um exemplo. Formada pela ABS –Associação Brasileira de Sommeliers–, a profissional sonhava em vender somente vinhos sem aditivos. “Há 11 anos trabalho no ramo e de lá para cá procurei ter uma alimentação mais saudável, tentando consumir o mínimo possível de produtos industrializados. Daí nasceu a ideia: por que não vender rótulos orgânicos?”, diz Carolina. “É um mercado novo, que está crescendo, e tenho certeza de que será o nosso futuro.” Desse desejo nasceu, em 2012, a Winebio, especializada em vinhos orgânicos e biodinâmicos, que abrange o ClubeY, um clube de vinhos também focado nessa temática.

Baseada em São Paulo, A Winebio comercializa atualmente cerca de 400 rótulos, provenientes de várias regiões vitivinícolas, das mais tradicionais europeias até outras menos conhecidas pelos brasileiros, como o Líbano. No caso da Winebio, a venda é feita por meio do site da empresa (www.winebio.com.br) ou por telefone.

Na mesma linha, a Bionysos (www.bionysos.com.br), do Rio de Janeiro, também aposta nesse nicho de mercado, comercializando em seu site uma seleção de rótulos sem pesticidas –todos franceses. “Meu foco são os vinhos da França, porque os conheço bem, morei 20 anos no país. Mas até o final do ano vou trazer também italianos”, diz seu idealizador, Marco London. “Por enquanto, entrego em São Paulo e no Rio de Janeiro, pois tenho o cuidado de transportar os vinhos em carros refrigerados, já que essas bebidas são muito delicadas”, conta.

Atuando nesse mercado especializado desde 2009, London observa que há muito trabalho a ser feito no sentido de mudar a percepção do consumidor. “Ainda há um certo preconceito com vinhos orgânicos. Sempre alguém me diz que não compra por que é 'ruim e caro'”, afirma. “Mas esse mito do vinho ruim cai por terra quando vemos que a francesa Romanée-Conti, uma vinícola biodinâmica desde sempre, com zero uso aditivos químicos, que produz um dos melhores vinhos do mundo”, lembra London.

O preço é outro fantasma que costuma afastar o consumidor dos rótulos mais naturais, mas os especialistas garantem que é possível, sim, encontrar opções com ótimo custo-benefício. “O universo de orgânicos é muito pequeno, menos de 10% da produção mundial se enquadra nessa categoria. Por isso, muita gente acha que são mais caros, mas nem sempre é verdade", enfatiza Carolina. Na Bionysos, os rótulos custam a partir de R$ 60, provenientes de quatro prestigiadas regiões francesas: Borgonha, Champagne, Loire e Rhône.

Os que preferem provar as bebidas antes de apostar na compra de uma ou mais garrafas, uma boa opção é a enoteca Saint Vin Saint, em São Paulo. O pequeno bistrô tem uma carta com 99% dos rótulos orgânicos, biodinâmicos ou naturais -com opções em taça e meia-garrafa- para combinar com as criações da chef e sommelière Lis Cereja. Os rótulos também estão à venda na loja virtual da casa (www.saintvinsaint.com.br).