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Projeto que proíbe venda de foie gras em SP cria polêmica entre chefs

Venda e produção de foie gras pode ser proibida em São Paulo - Getty Images
Venda e produção de foie gras pode ser proibida em São Paulo Imagem: Getty Images

Anna Fagundes

Do UOL, em São Paulo

04/10/2013 17h00

Um projeto de lei proibindo a venda e produção de foie gras em São Paulo foi aprovado nesta quinta-feira (3) pela Câmara de Vereadores em primeira votação. De autoria do vereador Laércio Banko (PHS), o projeto foi apresentado em agosto do ano passado e propõe proibir “a produção e comercialização de foie gras, in natura ou enlatado, nos estabelecimentos comerciais situados no âmbito do Município de São Paulo”. 

Caso a lei seja aprovada em segunda votação e sancionada pelo prefeito Fernando Haddad (PT), está prevista multa de R$ 5.000 para produtores ou comerciantes. Em caso de reincidência, o valor dobra. O projeto também contempla a proibição da comercialização de artigos de vestuário com pele ou couro de animais na cidade. A reportagem não conseguiu contato com o vereador nesta sexta-feira (4).

“A lei não tem nenhuma utilidade para a população em geral e só vai prejudicar os produtores de foie gras, empresas pequenas que não vão poder vender seu produto no maior mercado do país”, diz Raphael Despirite, chef do restaurante Marcel.

“O projeto foi feito no ‘chutômetro’ total, para chamar a atenção. O mercado é minúsculo, o consumo é minúsculo e, no fim, não vai fazer diferença para a maioria da população." Despirite, que já fez pratos como foie gras com uva cozida e congelada na cachaça, não utiliza a iguaria atualmente no Marcel. “Mas o que me entristece é não ter a possibilidade de usar o ingrediente, se quiser.” 

Gavage
O foie gras é produzido a partir da engorda de patos ou gansos, superalimentados por um processo chamado “gavage” (do francês “gaver”, que significa “comer demasiadamente”). Os primeiros registros da produção e consumo do prato são de 2.500 anos antes de Cristo: os antigos egípcios já praticavam a produção, de modo parecido com as técnicas aplicadas hoje em dia.

Como no processo de “gavage” os animais são forçados a comer, muitos ativistas da causa animal se posicionam contra a produção de foie gras. A venda do ingrediente foi proibida no Estado norte-americano da Califórnia em 2012, com multa para quem infringir a lei. Países como República Tcheca, Dinamarca, Noruega e Alemanha proíbem a alimentação forçada de animais para fins gastronômicos, sem veto, entretanto, à importação ou venda do produto. 

A chef Tatiana Cardoso, do restaurante Moinho de Pedra, é uma das pessoas que aprova o projeto de lei proposto em São Paulo. Vegetariana há 20 anos, ela chegou a ter um ganso de estimação em casa e acredita que “para ter pratos bons, não é preciso apelar para esse tipo de comércio cruel”.

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“Apoio integralmente a lei. Hoje em dia, não dá para acreditar que as pessoas ainda precisem causar sofrimento aos animais para obter ingredientes”, explica a chef. 

Para Julien Mercier, chef do Le Bilboquet, a lei é uma “farsa sem muito cabimento”. Segundo ele, “o vereador está escondendo um problema gigantesco da indústria de alimentos atrás de um produto pequeno como o foie gras”.

“Primeiro, não consigo entender por que o foie gras está no mesmo projeto que lida com pele de animais. Agora vão proibir a venda de produtos de couro também? O vereador vai acabar derrotando três pequenos produtores, em vez de lidar com os gigantes da indústria”, opina o chef, nascido em Saint-Étienne (França). “Sou engajado no que diz respeito à origem dos ingredientes que uso e contra tratamentos cruéis. Conheço meu fornecedor de foie gras e sei como tudo é feito. Acredito que ele só vai prejudicar os pequenos produtores, que vão ter que fechar as portas.”

Mercier tem esperança de que a lei não seja sancionada por Fernando Haddad, mas já tem um plano se precisar parar de usar foie gras. “Vou abrir um restaurante em Guarulhos, bem na divisa com São Paulo, chamado Au Bon Foie Gras!”