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"A qualidade do produto depende do seu bolso", diz Ferran Adrià em SP

Claudia Lima e Rafael Mosna

Do UOL, em São Paulo

05/11/2013 17h04

No Brasil desde segunda-feira (4) exclusivamente para palestras e bate-papos, o chef catalão Ferran Adrià conversou com uma plateia recheada de jornalistas na manhã desta terça (5), no edifício da Vivo, empresa responsável por sua vinda.

  • Simon Plestenjak/UOL
  • Simon Plestenjak/UOL
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    O chef catalão Ferran Adrià durante entrevista no prédio da Vivo, na zona sul de São Paulo

O cozinheiro é famoso pelo restaurante El Bulli, que por tempos foi considerado o número um do mundo em ranking da revista inglesa "Restaurant", mas que "hoje encontra-se em período sabático", como disse diversas vezes.

Em sua passagem-relâmpago pelo país, Adrià tratou logo de avisar que não iria cozinhar. A palestra foi focada principalmente nos temas empreendedorismo, criatividade e tecnologia, além de seus planos para um futuro bem próximo.

Como é o caso da elBullifoundation, instituição centrada na pesquisa da gastronomia, que tem previsão de abertura em 2014. O chef, ao lado da equipe do el Bulli, planeja trabalhar não apenas com estudantes e profissionais de cozinha como também arquitetos e designers. Ou ainda da Bullipedia, uma espécie de banco de dados como a Wikipedia, mas voltada à gastronomia ocidental, com também espaço a criações de novas vanguardas.

Maionese pronta
Mais tarde, em conversa exclusiva com o UOL Comidas e Bebidas, o catalão fez questão de frisar sobre a comida simples e de fácil preparo, acessível a "pessoas normais". Ressaltou que, nesta semana, o aplicativo "Adrià en Casa" pode ser baixado gratuitamente para smartphones e tablets específicos pela loja da Amazon. A ideia é que o usuário consiga fazer em casa tanto menus completos quanto pratos individuais.

"Hoje, falta um diálogo dos profissionais com o público. Eu não gosto de cozinhar em casa. Mas, quando preparo algo, cozinho em meia hora. Meia hora! E são três, quatro pratos", disse.

E como executar tal proeza? "Primeiro, antes de ir ao supermercado, já procuro ter em mente o que quero fazer. Qualquer filé ou peixe pode ser feito em uma grelha ou frigideira, sem quase nada de óleo, o que deixa a comida mais saudável. Adiciono azeite extravirgem, mas só no final, para dar sabor. Dá também para cozinhar um aspargo e servir com maionese. Eu compro da maionese pronta mesmo, posso garantir que há opções boas."

Se resolve fazer camarões, esquenta água e sal até que ela quase atinja a fervura. Desliga o forno e, só então, acrescenta os crustáceos e os deixa cozinhando por exatos três minutos. E pronto.

Adrià, que em casa também faz tortilla com batatas chips prontas, ressaltou a exaltação existente pelos ingredientes produzidos em pequena escala.

"Quais chips recomendo comprar para a minha tortilla? Depende. Para quem? Para um gourmet ou para uma pessoa normal? Se quiser, te sugiro o pequeno produtor, que está no lugar 'x', mas ele custa o dobro e não é acessível a quem ganha US$ 300 por mês. A qualidade do produto depende do seu bolso. Champanhe bom é só Dom Pérignon? Bem, eu adoro! Mas não se pode dizer isso. Não sou louco. As pessoas gostam de cerveja, e eu também adoro. Tomo a Estrella Damm [cerveja espanhola de marca popular]. E tudo bem, ela é boa."