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Preferir cerveja em garrafa ou lata é questão cultural, dizem especialistas

Rafael Mosna

Do UOL, em São Paulo

22/11/2013 16h28

Cena em um supermercado: na prateleira, sua cerveja preferida é oferecida em latinhas e garrafas de vidro. Qual delas escolher? O sabor pode ser diferente em cada uma delas?

"Ao fazer um teste cego com uma mesma marca de cerveja oferecida em lata e em garrafa, a grande maioria das pessoas não vai conseguir distinguir uma da outra", garante Marcelo Carneiro, fundador da Colorado, microcervejaria de Ribeirão Preto, que trabalha somente com garrafas.

"Uma cerveja de uma determinada marca tem a mesma receita, seja ela armazenada em lata, garrafa ou barril. Há uma pequena variação na quantidade de gás carbônico, pois, dos três, o barril é o mais resistente, e a lata, a menos", explica a beer sommelière Cilene Saorin, que compartilha da opinião de que, sensorialmente, tais diferenças são quase imperceptíveis aos leigos.

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    No Brasil, microcervejarias artesanais concentram sua produção de cervejas em garrafas

Histórias de quem assegura encontrar sabores que vão além de pequenas nuances em uma mesma marca de cerveja em diferentes recipientes são comuns. Papo de boteco? Não necessariamente.

"Elas tendem a ser diferentes com o tempo porque cada embalagem tem uma melhor performance no que é de fato seu objeto primordial: preservar o produto contido nela", conta Saorin. Trocando em miúdos, são as (más) condições de armazenamento que mudam o sabor original da bebida.

Basicamente, incidência de luz e diferenças bruscas de temperatura, como o calor do porta-malas e o frio do freezer, oxidam, de maneiras distintas, a bebida. O alumínio das latinhas, que oferece maior proteção à luz, tem uma condução térmica maior, facilitando que o líquido esquente ou gele rapidamente se exposto a situações extremas, alterando o gosto da cerveja.

"Não é um problema de embalagem. Óbvio que elas não são perfeitas, mas mais imperfeito é o ser humano, que não sabe cuidar", diz Saorin.

Mais baratas, menos chiques
As latinhas têm custo menor, são mais leves e oferecem uma maior praticidade de transporte. Mas são preteridas pelas microcervejarias brasileiras, geralmente de produção artesanal. "Implementar o processo é mais custoso, embora a cadeia como um todo seja mais barata com as latas. Para quem começa, é difícil, pois elas são vendidas em lotes maiores", explica Alessandro Morais, gerente de produto do Lamas Brew Shop.

O posicionamento da marca por questões culturais também é levado em conta na hora da decisão do empresário. No Brasil, há ainda um preconceito com a cerveja enlatada, por vezes tida como parte de um produto feito em grande escala, de qualidade inferior. "Eu prefiro a garrafa também. Sou um desses que carrega esse preconceito", assume Carneiro, da Colorado.