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"Nunca fui chef, fui só um cozinheiro", diz Ferran Adrià ao "Roda Viva"

Do UOL, em São Paulo

20/01/2014 23h54

O chef catalão Ferran Adrià foi o entrevistado do programa "Roda Viva" (TV Cultura) na última segunda-feira (20). Falando sobre sua carreira e seu trabalho com a El Bulli Foundation, ele explicou que nunca se viu como um chef, mesmo no auge do El Bulli, considerado por cinco anos o melhor restaurante do mundo.


"Não gostava nem de comer nem de cozinhar. Estudava Economia e abandonei o curso, comecei a trabalhar lavando pratos", ele explicou. "Eu nunca fui chef, sempre fui cozinheiro. Sou parte de uma equipe.", diz. "Eu sempre disse que a pessoa mais importante no El Bulli era o lavador de pratos. Se um dos criativos não vêm, dá-se um jeito. Mas se o lavador de pratos falta, vamos ter que lavar de qualquer jeito!"

A pressão do sucesso, de acordo com Adrià, era um dos motores para a criatividade do El Bulli. "Quando você sai na capa do "The New York Times" como o melhor do mundo, você tem que provar isso. É maravilhoso sair no jornal, mas tenho que estar à altura. Não dá pra querer apenas a parte boa. E a parte ruim é que quando uma pessoa viaja 5 mil quilômetros, e tem mais seis meses de espera para ir ao seu restaurante, é normal que as expectativas sejam altas."

Perguntado sobre seu trabalho ao lado do irmão, Albert Adrià, o chef catalão diz que se trata do "trabalho de consultoria mais barato do mundo". "Meu trabalho é ir no restaurante, comer, pagar e dar minha opinião", diz ele.

Segundo Ferran, a ideia por trás dos restaurantes de seu irmão é mostrar à próxima geração de chefs "que é possível ser feliz sem ter três estrelas no guia 'Michelin'". 

Novas medidas
O sistema de avaliação do guia 'Michelin' foi criticado por Adrià durante o programa. "A lista do 50 Best (promovida pela revista britânica "Restaurant") é mais importante, sem discussão. Conheço restaurantes com três estrelas que não lotam. Os dez melhores do Restaurant sempre lotam."

Segundo o chef, "falta uma ideologia ao Michelin. E ainda tem o problema da internet: você quer saber das coisas agora, e o guia só sai anualmente. A lista do 50 Best colocou a América Latina no mapa". 

Adrià se dedica atualmente ao trabalho de pesquisa de gastronomia no El Bulli Foundation, "a coisa mais difícil da minha carreira, multiplicada por dez". Mas a cabeça ainda é a de um cozinheiro que não se ilude com a aparente facilidade das coisas e que busca simplicidade. "Eu compro maionese pronta. Se eu for fazer, sei que ficará boa. Mas chego em casa 20h30 e não quero ter que fazer maionese", diz. "Um pão com azeite parece simples, mas é uma refeição mais complexa do que qualquer prato do El Bulli".