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Preparado com açúcar no Brasil, abacate vai bem em saladas, molhos e sopas

Rafael Mosna

Do UOL, em São Paulo

17/03/2014 12h04

No Brasil, o acabate ainda é visto como uma fruta para ser degustada no formato doce, seja só com açúcar, na forma de creme para a sobremesa ou batido com frutas e servido na tradicional vitamina.

"Somos o único país que consome o abacate preferivelmente com açúcar. Não temos a cultura de prepará-lo com sal como se vê em outros locais. No mundo, o prato mais conhecido com abacate é de origem mexicana", explica Fabio Stoco, professor do Centro Universitário Senac. Trata-se do guacamole, um molho, “ou salsa”, como chamam os mexicanos, feito preferencialmente com o tipo avocado, que costuma levar ainda cebola, alho, coentro, suco de limão, pimenta e sal.

"Para nós, brasileiros, me parece, o abacate era utilizado mais como uma espécie de complemento alimentar. O próprio creme de abacate, se pensarmos bem, seria uma sobremesa do cotidiano, uma coisa simples para adoçar a boca depois do almoço do meio da semana. Ele não é visto como iguaria e dificilmente seria encontrado numa ocasião especial, numa festa ou celebração. Talvez isso se dê pela abundância com que o abacate é encontrado por aqui", diz o chef Marcelo Corrêa Bastos, do Jiquitaia.

Em seu restaurante, ele serve o tal creme, tradicional em muitas partes do Brasil, como uma das opções de sobremesa. "Gosto muito pela nostalgia, pela lembrança do creme que minha mãe fazia", conta.

Nascido do norte do Paraná, o cozinheiro tem outra ligação saudosista com o ingrediente. "A vitamina [vendida] na rua Sergipe, em Londrina, é uma das melhores coisas que existem. E não é só por nostalgia, não. Acho que ela deveria ser tombada. É para mim o principal ícone gastronômico da minha cidade. Seguramente."

A cozinheira mexicana Lourdes Hernández-Fuentes se encanta com o ingrediente por sua cremosidade e pela sua capacidade para aparecer em pratos, seja ele uma sopa, um taco ou uma salada. "Gosto dele para finalizar. Assim é o jeito mais comum, como o consumimos no México. Isso pode significar muitas coisas, mas uma é certa: ele não será cozido", garante ela.

"Ele vai bem numa salada com laranja, cebola, tomate e agrião. Ou como molho de salada, batido com alho e iogurte. Pode ser o recheio de linguiça, de cogumelos, de arroz ou de camarões, dependendo da imaginação e do bolso", acrescenta Lourdes.

Ela também recomenda adicionar pedacinhos de abacate "numa sopa caldosa", para que eles sejam levemente cozidos no momento em que forem mergulhados no caldo quente. "Minha mãe os preparava recheados das sobras. Passava-os por farinha e ovo batido e os fervia rapidamente. Era um banquete de gordura e sabor."

Dicas para a perfeição
Tipicamente mexicano, o guacamole já caiu no gosto do brasileiro. "Para fazer uma boa receita é fundamental selecionar abacates maduros, porém firmes. Sua cor deve estar verde com tom amarelado ao centro, sem manchas. A semente deve sair com facilidade", ensina Henrique Benedetti, chef do Obá.

O preparo varia conforme a região de seu país de origem ou até mesmo de família para família. "É um prato definitivamente do 'top dez' de nossa culinária e suas variantes são infinitas. Eu gosto de simplesmente deixar essa 'salsa', em sua 'madurez escandalosa', cair na tortilla quente e mole, esfarelar sal de mar e comer como se fosse sempre a primeira vez", brinca Lourdes.