América Latina está no foco da gastronomia mundial, segundo especialistas
Passado o calor da cerimônia de premiação do "50 Best", espécie de "Oscar da gastronomia", promovido pela revista britânica "Restaurant" na última segunda-feira (28) em Londres, os chefs e especialistas em culinária começam a analisar os resultados atrás de previsões de tendências e novos caminhos para a área.
A lista dos 50 melhores, fundada em 2002, já fez com que restaurantes pequenos e em lugares remotos recebessem atenção mundial, transformando seus cozinheiros em estrelas e estabelecendo novas rotas gastronômicas, premiando locais por sua criatividade e potencial e não pelo luxo.
No entanto, a sensação é de que uma estética mais natural irá falar mais alto a partir de agora. Para o jornalista italiano Andrea Petrini, que faz parte do time que elegeu os 50 melhores restaurantes do planeta, "após a fase tecno-emocional marcada pelo El Bulli, começamos a caminhar em direção a uma cozinha com estética e filosofia naturalista".
Segundo o jornalista, "estamos vivendo uma fase que celebra a bistronomia [gastronomia centrada em serviços sem pompa, com cardápio enxuto e preços mais em conta], mas acho que em breve vamos começar a ver um pouco mais de luxo e elegância voltando à mesa, porém de forma casual e descontraída”.
Pensando os pratos
Os chefs premiados pela lista também fazem suas apostas para os próximos passos. Para Massimo Bottura, chef da Osteria Francescana (Itália), terceiro lugar da lista, o futuro está na pesquisa e reflexão. “Já estamos observando muito mais consciência, ética e pensamento em cada prato. Nossos restaurantes não servem só comida, mas fazem as pessoas refletirem" diz. "E essa atitude continuará crescendo. É, para mim, o futuro.”
Já Helena Rizzo, eleita a melhor chef feminina em 2014, a busca de novos caminhos para o crescimento também está na pauta. “Estamos nos envolvendo muito mais com pesquisas e promovendo o diálogos entre profissionais. No Brasil temos o C5 [Centro de Cultura Culinária Câmara Cascudo, ONG de pesquisa em gastronomia], abrindo uma nova porta para dividir informações e pesquisas.”
A América Latina, que terá nova edição regional do "50 Best" em setembro deste ano, segue no pensamento de muitos. Gaston Acúrio, que ganhou o prêmio de melhor restaurante na edição regional do prêmio em 2013, destaca o poder dos ingredientes locais como segredo do sucesso. "Estamos mostrando ao mundo que temos muito a oferecer em termos de criatividade e autenticidade. Nossa força é, e continuará sendo, a nossa terra e a nossa gente”, diz.
Força latina
Cada grupo de chefs e jornalistas protege seu país como torcedores no campeonato mundial –todos querem ver o seu “time” ocupando uma posição de destaque e, no final, fala-se bem ou mal de acordo com o resultado atingido por seus jogadores. No entanto, a força do continente latino-americano, com seis restaurantes na lista final (sendo quatro deles entre os vinte primeiros colocados), se tornou um assunto acima de qualquer "torcida".
"O foco agora está na América Latina", diz Massimo Bottura. "E não é uma moda, na minha opinião. É a percepção mundial de que países como o Brasil tem produtos impressionantes e chefs de grande talento."
O restaurante peruano Central foi um dos destaques da noite, tendo subido nada menos que 35 posições na lista em relação a 2013. Para Virgilio Martinez, chef da casa, o continente "começa a colher os frutos de anos de muito trabalho. Porém, temos sempre que lembrar que somos só os embaixadores de nossa cozinha", diz. "O sucesso e a atenção que estamos tendo se deve ao trabalho árduo de muita gente, principalmente de nossos produtores."
O chef argentino Mauro Colagreco, número 11 da lista com seu restaurante Mirazur em Menton, na França, complementou: “Hoje somos seis latino-americanos na lista. Mas em breve seremos mais, tenho certeza".
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