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Menus traduzidos e apps são apostas para ganhar turista pela barriga

Cardápio do restaurante Bistrot de Paris, traduzido pelo app MyChoice - Divulgação
Cardápio do restaurante Bistrot de Paris, traduzido pelo app MyChoice Imagem: Divulgação

Roberta Malta

do UOL, em São Paulo

23/05/2014 17h00

Muito se tem falado sobre o Brasil não estar preparado para a Copa. As justificativas vão desde as obras, que estão atrasadas, até o fato de que boa parte das pessoas, principalmente no setor de serviços, não falam inglês.

Mas também é sabido que esse é o país do “jeitinho”. É possível que tudo se ajeite nos 45 minutos do segundo tempo, e os restaurantes estão fazendo a sua parte: traduzindo cardápios, agilizando o serviço e apresentando a cozinha brasileira ao mundo.

Quem deu a partida nesse movimento foi a chef Mônica Rangel, do restaurante Gosto com Gosto, em Visconde de Mauá, região serrana do Rio de Janeiro. À frente da parte gastronômica do evento Goal to Brasil, realizado pela Embratur, levou chefs de todo o território nacional para os 14 países de maior indução turística para o Brasil –França, Canadá, Colômbia, Portugal, Chile, Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra, Uruguai, Peru, México, Estados Unidos e Cuba.

O objetivo era apresentar a cozinha nacional além dos clichês e atrair pessoas do mundo todo para assistir aos jogos do mundial. “Mostramos a comida de todas as cidades-sede de uma maneira muito autêntica”, diz Mônica. “Não teve churrasco nem feijoada.”

Através de sorteio, cada país escolhido conheceu melhor a culinária de determinado Estado. A França, por exemplo, recebeu a Bahia, enquanto o Canadá ficou com a culinária amazônica. Para o cardápio ser mais abrangente, três chefs de diferentes localidades brasileiras se dedicaram a um Estado por vez, incluindo um pouquinho de sua própria cozinha no cardápio. Assim, metade do menu era típico da cidade sorteada, e a outra metade, dos locais de origem dos outros dois chefs visitantes. “Para preparar o menu da Bahia, além da chef baiana Dadá, do restaurante Sorriso da Dadá, foram também Daniela Martins, do Lá em Casa, de Belém e Joca Pontes, do Ponte Nova, em Recife”, conta Mônica.

Além disso, uma turma de seis chefs roubou a cena no congresso Madrid Fusión, importante fórum gastronômico que acontece anualmente, na Espanha. “As pessoas ficavam loucas, faziam filas, queriam experimentar de tudo”, lembra Mônica.

Cardápios em até cinco idiomas

Para não deixar nenhum estrangeiro batendo asas quando quiser comer um frango ou mugindo para pedir um filé-mignon, a empresa MyChoice traduz cardápios em até cinco idiomas via QR Code (códigos de barras em 2D lidos por smartphones ou tablets).

A implantação do serviço é rápida, leva só cinco dias úteis, e funciona através de um adesivo colado no menu ou em displays de mesa. A empresa disponibiliza a língua que o cliente (no caso o restaurante) quiser e resolve o problema de quem deixou os preparativos para a última hora e não conta com funcionários bi ou trilíngues.

A escolha de Cyrille Schroeder, sócio-proprietário do paulistano Bistrot de Paris, por exemplo, foi pela tradução em inglês, espanhol, alemão, russo e chinês. “Nosso cardápio já vem em português e francês. Agora, com sete idiomas, acho que abrangemos o maior percentual da população mundial”, diz. “Com o inglês atendemos boa parte do mapa e com o português e o espanhol, a América Latina.” As outras línguas escolhidas são as de mais difícil comunicação, segundo ele.

Francês, Cyrille conta ter horror a aqueles cardápios cheios de folhas típicos dos restaurantes turísticos, impressos em todos os idiomas. “Assim, resolvemos o problema de uma forma moderna e elegante”, diz. “Somos uma casa gastronômica, mas não podemos virar as costas para as pessoas que vêm de fora durante a Copa.”

O Bistrot de Paris já tem um garçom bilíngue e vai trazer um estudante quadrilíngue do Canadá para estagiar no salão durante o mundial.

Mas, infelizmente, essa não é a realidade de todos os estabelecimentos. É o caso do bar Salve Jorge, com duas casas em São Paulo, que comprou o serviço de tradução de cardápios em inglês e espanhol. “É mais prático, já que ninguém aqui fala outra língua a não ser o português”, diz Flávio Arruda, gerente da unidade da Vila Madalena. A partir do dia 1° de junho, para quem não tem celulares de última geração, a carta vai estar também impressa nesses idiomas.

O que pouca gente sabe é que a maioria dos smartphones possui um programa de voz que lê os QR Codes em voz alta. Pelo sistema IOS, através do aplicativo leitor de tela do Iphone ou Ipod, o “Voice Over” reproduz em alto e bom som tudo o que está escrito nos códigos, facilitando a vida dos deficientes visuais – e ainda dos que reclamam das letras pequenas.