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Com público carnívoro, "açougue vegetariano" é atração na Holanda

Marcel Vincenti

Do UOL, em Haia (Holanda)*

29/07/2014 14h44

Não há sangue no açougue administrado pelo chef Maarten Kleizen na cidade de Haia, na Holanda. Cercado por dezenas de afiados facões, ele passa o dia com o uniforme de trabalho quase totalmente imaculado: as manchas vermelhas que aparecem aqui e ali não são de um pedaço cortado de alcatra, mas de beterraba.

No sentido estrito da palavra, o açougue de Kleizen nem poderia ser chamado de açougue, visto que, no local, carne é um elemento inexistente. “Nosso nome [De Vegetarische Slager, em holandês, ou Açougue Vegetariano] é algo apenas para chocar”, diz ele. “Mas há um fundo de verdade aí, pois usamos ingredientes vegetarianos para reproduzir o sabor, a textura e o formato de receitas carnívoras”.

A loja gerenciada por Kleizen é a matriz de uma rede de “açougues vegetarianos” que hoje vende seus produtos em toda a Holanda e boa parte da Europa. Ela foi criada em 2010 pelo fazendeiro holandês Jaap Korteweg, que queria dar aos carnívoros opções saudáveis de alimentação, mas sem abrir mão do sabor proporcionado por um belo filé ou por um prato à base de frango ou peixe.

Para isso, Korteweg desenvolveu uma verdadeira (e secreta) alquimia culinária, usando soja e tremoço para criar receitas que reproduzem, à perfeição, carnes vermelhas, brancas, tirinhas de bacon e até crustáceos.

No “açougue” de Haia, a maioria dos itens é vendida refrigerada – mas tudo fresco, cortado e temperado no mesmo dia: no local, há hambúrgueres de soja (mas que têm gosto de hambúrguer), potes de molho barbacue e receitas como “frango ao molho curry”, “ceviche”, “nuggets”, “camarão marinado” e “frango xadrez” – olhando de perto, e mesmo provando os pratos, um desavisado jamais diria que, ali, o tremoço faz o papel da carne.

Público carnívoro

Erra quem pensa que o principal comprador do Açougue Vegetariano é o público vegetariano. “A maioria dos clientes que entra aqui é carnívora, mas são pessoas que querem diminuir seu consumo de carne”, explica Kleizen.

Um desses clientes é o estudante holandês de arquitetura Nick Krouwel, 25 anos, morador da cidade de Roterdã: “consumo carne em eventos especiais, como festas e churrascos. Mas, durante a semana, tento seguir uma dieta vegetariana. Me sinto mais saudável e acho que o consumo elevado de carne prejudica o meio ambiente”, conta ele.

Maarten Kleizen calcula que cerca de 70 pessoas entrem no Açougue Vegetariano de Haia em seus dias de funcionamento, onde é também possível adquirir pratos quentes (feitos na hora) e produtos como azeites, geleias orgânicas e patês veganos. Com duas filiais em Amsterdã, o negócio tem seus produtos vendidos em mais de 1.000 mercados da Europa.

Os preços, por sua vez, estão longe de serem abusivos: um prato de “frango” ao molho curry, por exemplo, custa 6,50 euros (cerca de R$ 20).

Há dois anos, o jornal britânico “The Independent” publicou uma reportagem sobre o Açougue Vegetariano em que perguntou, após citar a popularização das receitas Jaap Korteweg na Europa: “Será este o final da carne?”

Se depender de Korteweg, parece que sim: em seu site, ele afirma querer transformar seu negócio “no maior açougue do mundo – e num curto prazo”.

Ainda não há previsão de vendas para o Brasil.

ENDEREÇO
Rua Spui 167A - Centro - Haia (Holanda)
Aberto das 11h às 18h às terças, quartas e sextas; das 11h às 21h às quintas; e das 11h às 17h aos sábados.
Mais informações: www.vegetarianbutcher.com

*O repórter viajou a Haia a convite do escritório de promoção turística da Holanda.