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Saia da frente da TV e cozinhe mais, defende guru da alimentação saudável

"Muitos americanos gastam mais tempo vendo outras pessoas cozinhando na TV do que fazendo comida para si mesmos", diz Michael Pollan - Ken Light/Divulgação
"Muitos americanos gastam mais tempo vendo outras pessoas cozinhando na TV do que fazendo comida para si mesmos", diz Michael Pollan Imagem: Ken Light/Divulgação

Rodrigo Casarin

Do UOL, em Paraty (RJ)

30/07/2014 07h15

“Algo está acontecendo com a comida no Brasil. Com a chegada das grandes indústrias alimentícias, os hábitos estão mudando. Fast-food, junk food, as comidas processadas... já têm um marketing muito agressivo, que se tornará ainda pior no futuro”. O escritor, jornalista e ativista Michael Pollan diz isso com a perspectiva de quem estuda há mais de 15 anos a relação entre o homem e a comida -- principalmente em seu país, os Estados Unidos, onde cerca de metade dos alimentos consumidos pelas pessoas é feito por alguma indústria.

Foi graças à atuação nessa área que o jornalista foi eleito, em 2010, um dos homens mais influentes do mundo pela prestigiada revista "Time". Autor de livros como "O Dilema do Onívoro", "Em Defesa da Comida" e "Regras da Comida", Pollan estará na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) para uma mesa no dia 1º de agosto.

Uma das principais recomendações do ativista é elaborar a sua própria comida. “Cozinhar é uma das coisas mais importantes que uma pessoa pode fazer. É uma forma de proteção, tanto da cultura quanto da saúde, de se reconectar com a natureza, com os amigos, com a família, com as tradições. É um erro deixar que as grandes corporações cozinhem por nós; eles não estão preocupados com nossa saúde ou com a natureza”, defende.

Sobre a dificuldade de encontrar tempo para essa tarefa nos dias atuais, Pollan alerta para as prioridades que cada um tem em suas vidas. “As pessoas dizem que não têm tempo para cozinhar, mas normalmente elas têm mais tempo do que imaginam. Nos EUA, as pessoas passam mais de duas horas navegando na internet todos os dias. Nós encontramos tempo para o que julgamos importante e cozinhar é uma das coisas mais importantes que há”, acredita.
 
O escritor recomenda que se abra mão de alguns momentos à frente da televisão para se fazer sua própria refeição. “Muitos americanos gastam mais tempo vendo outras pessoas cozinhando na TV do que fazendo comida para si mesmos”, aponta, referindo-se aos programas de culinária. O autor sugere que toda a família seja convidada para ajudar na cozinha, fazendo uma divisão dos trabalhos e garantindo uma maior convivência.
Montagem com os livros de Michael Pollan: "Em Defesa da Comida", "Cozinhar - uma história natural da transformação" e "O Dilema do Onívoro" - Divulgação - Divulgação
Montagem com os livros de Michael Pollan: "Em Defesa da Comida", "Cozinhar - uma história natural da transformação" e "O Dilema do Onívoro"
Imagem: Divulgação
O próprio Pollan assume que gostaria de ter mais tempo para cozinhar no dia a dia. “A maior parte das vezes eu faço comidas rápidas. Gostaria de gastar duas horas na cozinha todas as noites, como faço nos finais de semana”, conta. Ao fazer pratos rápidos, ele dá preferência àqueles à base de peixes, vegetais – como berinjela - e ovos, que, garante, podem ser preparados em poucos minutos.
 
No país há alguns dias, o escritor revela que ficou satisfeito ao observar que os brasileiros ainda comem mais comida feita em casa do que os americanos. “É preciso defender a tradição e a cultura que vocês têm nessa área, isso é precioso e fundamental para a boa saúde”. Sua primeira parada foi em Salvador, onde se maravilhou com a gastronomia local, principalmente por conta da moqueca e do feijão. Agora, procura um bom lugar para comer churrasco – e crê que o encontrará no Rio de Janeiro ou em São Paulo.
 
Pollan aprofunda-se nessas ideias e conceitos – e em muitos outros – em seu mais recente livro, “Cozinhar – uma história natural da transformação”, que define como “a história da minha educação na cozinha – e também na padaria, na leiteria, na cervejaria e na cozinha de um restaurante, alguns dos lugares que hoje são palco da culinária na nossa cultura”. O jornalista busca referências diversas para entender como se deu a relação entre o homem e a comida ao longo do tempo. De modo geral, ele defende que, cozinhando, o homem deixa a natureza crua para trás e atinge o que podemos chamar de cultura.