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Lojas criam versões chiques de pratos como coxinha e cuscuz

Anna Fagundes

Do UOL, em São Paulo

04/09/2014 16h47

No senso comum, coxinha é coisa de festa de criança ou do bar de esquina, cuscuz é prato de segunda linha e churros, aquela coisa frita em óleo suspeito na barraquinha da quermesse.

No entanto, são justamente pratos como estes que tem feito grande sucesso em roupagens mais modernas. Aproveitando a moda dos caminhões de comida e das feiras gastronômicas -para não falar das facilidades de vender pela internet- as receitas de família saem dos cadernos e ganham novos recheios e embalagens chamativas, tudo com um grande apelo à memória (e ao sabor) dos tempos passados. 

Isso vale para bolos caseiros, para broas de milho e também para outros pratos. É o caso, por exemplo, do Tradicional Cuscuz Paulista, loja especializada no prato à base de farinha de milho e sardinhas.

Vendidos em versões mini e com embalagens coloridas, os pratos da professora de inglês Eliana Fagundes Matheus chamam a atenção por onde passam. Ela já chegou a confeccionar 1.400 unidades para eventos, com sabores que vão desde o tradicional com sardinhas até invenções como o cuscuz com mix de cogumelos à base de vinho tinto.

Ao todo, são oito sabores criados a partir da receita original da mãe de Eliana, sucesso na família que acabou estimulando a criação da loja. "O cuscuz é um prato muito menosprezado, que quase ninguém faz hoje em dia", explica Eliana. "E é justamente uma coisa que começamos a resgatar. Na época da minha mãe, era uma coisa finíssima!".

Para surpresa da cozinheira, o público tem apostado nos sabores diferentes. "Temos grande procura pelo cuscuz de camarão e de legumes, mas o pessoal tem muita curiosidade, quer arriscar, experimentar coisas novas", conta. 

Coxinha com tudo
Outro prato que ganhou novos ares, quem diria, foi a boa e velha coxinha. Se até pouquíssimo tempo atrás o máximo de ousadia era colocar queijo Catuipry no recheio, hoje há quem turbine o salgadinho com bacalhau, carne seca e até com chocolate. No paulistano Gràcia Bar, por exemplo, o quitute é recheado com queijo brie e mel, enquanto o chef Carlos Bertolazzi fez sucesso com uma coxinha recheada com carne de pato

O salgado anda tão chique que tem até um "food truck" dedicado somente para ele, o Só Coxinhas. A ideia é da dupla João Victor Curial e Juliana Nagy Caltabiano, utilizando uma receita que já faz sucesso há quarenta anos em cafés do Vale do Paraíba.

"Trabalhávamos juntos e estávamos cansados da vida de escritório. Resolvemos apostar na receita da sogra da Juliana, que é muito vendida em cafés de Guaratinguetá e Campos do Jordão, para montar o nosso negócio", explica João. Os sócios investiram cerca de R$ 140 mil no negócio, que terá três carros percorrendo a cidade.

A ideia é vender os salgadinhos em porções pequenas, com recheios de camarão com Catupiry, frango com Catupiry, Nutella e doce de leite (estes dois últimos com massa doce). "As coxinhas doces foram uma surpresa, todo mundo gostou. Fizemos mais para nós, mas o pessoal ficou maravilhado", conta João, que pretende apostar no público das feiras gastronômicas. 

Menos óleo, mais nostalgia
A roupagem mais elegante -e um apelo um pouco mais saudável, na medida do possível- também pautam um carrinho especializado na estrela de muitos eventos noturnos e festas de rua por aí: os famosos churros. 

Na Chucrê Churros, Bruna Gomes vende churros brasileiros (compridos, recheados e com cobertura) e espanhóis (mais finos, servidos com molhos para mergulhar) fritos em óleo de algodão, o que deixa os doces mais sequinhos. 

"Sou de Santos e lá é muito comum e fácil achar um carrinho de churros em porta de colégio e cinemas", explica Bruna. "Desde que vim morar em São Paulo sentia falta e dificuldade em achar o meu doce preferido. Quando achava, era muito oleoso, sem o mínimo de higiene". 

O investimento inicial de R$ 80 mil (incluindo equipamentos) acabou compensando - Bruna chega a fazer 12 eventos fechados por mês, além de participar de feiras abertas ao público. No cardápio, vale de tudo, de recheios com doce de leite argentino, goiabada com Catupiry ou chocolate belga até detalhes como granulados de coco queimado, paçoca ou flocos de café.

E o público quer mesmo experimentar coisas novas? Bruna garante que sim. "O doce de leite ainda é o mais pedido e a Nutella também é muito solicitada, mas o público tem se arriscado em recheios que fujam de derivado de leite", conta. "Está fazendo muito sucesso os recheios de banana, maçã, frutas vermelhas e goiabada".