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Chicago: da pipoca à alta gastronomia, cidade foge do estereótipo americano

Roberta Malta

Do UOL, em Chicago*

17/10/2014 18h57

Quem pensa em comida americana imagina logo montes de maionese industrializada lambuzada num hambúrguer engordurado com alface de plástico. Fritas acompanha. Sempre. 

Ou refrigerantes caindo da máquina, enquanto, do lado oposto do corredor comprido, pedras de gelo fazem ritmo no balde de aço inox, perto do vão de elevadores.

Em Chicago é diferente. A personalidade da cidade que pegou fogo em 1871 e, com a reconstrução, serviu de modelo para o mundo todo -- com seus arranha-céus de metal dividindo espaço com a arquitetura Art Nouveau vigente na época --, se revela também na culinária.

Ali, a comida não nos faz esquecer que estamos na terra do Tio Sam, mas é preparada com um cuidado que nem sempre se vê em outra cidades norte-americanas. A ideia não é “gourmetizar” itens simples que caracterizam o país. Mas cozinhar com técnica apurada e valorizar o que a terra tem de melhor.

O cachorro-quente tem estilo próprio, o hambúrguer é feito com ingredientes de primeira, drinques têm pegada moderna e a alta gastronomia quase peca por tentar impressionar, mas conquista na delicadeza com que combina os sabores.

Contrastes que se completam
“Anos atrás, Chicago tinha uma comida muito gorda”, diz Jimmy Bannos Jr., do The Purple Pig. “Hoje, a cidade está aberta a uma cozinha mais criativa e leve.”

Parece engraçado ouvir isso de um chef que trabalha principalmente com carne suína. Mas Jimmy comprova, com seu cardápio nada monocórdio, que é possível tirar proveito máximo de um ingrediente só e servir pratos pouco gordurosos ou pesados.

“Uso todas as partes do porco na minha cozinha”, afirma. Mas será que o público americano está preparado para comer muita coisa além de bacon? A fila na porta comprova que sim.

As concorridas reservas nas casas mais badaladas da cidade, como o Alinea, o Grace e o RPM Steak, são outra prova de que o público local está antenado com as tendências da culinária mundial. “Trabalhamos só com produtos da estação”, afirma Curtis Duffy, do Grace, restaurante de alta gastronomia que serve pratos de extrema delicadeza.

As carnes envelhecidas (“dry-aged”) e os cortes especiais, como wagyu (gado de origem japonesa), também estão nos cardápios da cidade. “Essa peça deve ser servida mal passada ou, no máximo, ao ponto”, alerta o garçom do RPM Steak. Ponto para ele. O The Aviary, bar do badalado chef Grant Achatz, serve drinques fumegantes preparados na mesa do cliente.

A tradição da cidade, porém, se mantém no cachorro-quente “Chicago style” do Portillo's, feito com picles, cebola crua, pimentão e tomate. Os donuts da Stan's Donuts & Coffee ganham outros sabores, como chocolate ou pistache, mas mantém o clássico, recheado com creme de confeiteiro e coberto por açúcar, como carro-chefe da casa. A pipoca do Garret Popcorn, envolta no velho caramelo, é misturada a queijo quase picante.

Um passeio gastronômico de contrastes que se completam e deixam o turista morrendo de vontade de voltar para comer tudo de novo.

Veja a seguir dez lugares que vale a pena conhecer:

GraceAvaliado com duas estrelas no Guia Michelin, tem duas opções de menu degustação: fauna e flora. Os nomes não deixam dúvidas, um leva carne e o outro é vegetariano. O ambiente é austero, o serviço quase um balé. Não fosse pelo tronco que abriga a entrada, grande demais para ostentar uma fatia de presunto cru espetada em um palito de dentes (prato cheio para um quadro de humor sobre restaurantes de luxo), o jantar seria perfeito. Com sabores delicados e apresentação impecável, as nove etapas da degustação valem os salgados US$ 205 (cerca de R$ 510, sem vinho nem serviço).

RPM SteakÉ o point do momento, lugar para ver e ser visto. No cardápio, cortes bovinos de primeira e gordos pedaços de bacon grelhado dividem espaço com peixes frescos e frutos do mar. Para acompanhar, há seis tipos de batata, cogumelos variados e legumes. O ambiente é animado e os garçons passeiam com agilidade pelo salão. A carta de drinques é reduzida, mas eficiente.

Potillo’sEsqueça as (muitas) opções do cardápio da lanchonete de rede e concentre-se no ótimo cachorro-quente “Chicago style”. O pão molinho vem com salsicha cozida, picles, mostarda, cebola picada, pimentão e fatias de tomate. Bom e barato.

Garret PopcornA pipoca tradicional de Chicago (que já tem uma loja no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo), vendida em latas ou sacos gigantes, vale todas as calorias ingeridas. A mais pedida, carro-chefe da casa, é a que mistura os sabores caramelo e queijo. Quem não aguentar comer tudo de uma vez pode fechar o pacote que ela se mantém crocante por dias.

The Aviary: Acasa de drinques do festejado Grant Achatz, chef do Alinea, serve coquetéis surpreendentes. Um bourbon com toques cítricos pode ser infusionado à mesa e espalhar fumaça pelo apetrecho que mais parece de laboratório científico, assim como outro destilado com ervas pode vir dentro de um quadrado de vidro cheio de ervas. Como a carta muda com frequência, peça ajuda ao atendente antes de escolher o que vai beber – e, se ele quiser escolher por você, entregue-se sem medo.

Sumi Robata BarO chef Gene Kato serve pratos com sotaque japonês de cair o queixo, sem nenhum compromisso com a tradição do país do sol nascente, a bons preços. As opções de bentô (tipo de prato feito japonês) são variadas e você pode escolher a proteína, a salada, a sopa e o acompanhamento de acordo com as sugestões do dia. Não deixe de experimentar o pão feito no vapor com uma espécie de kafta no palito dentro, maionese e batata rústica.

The Purple PigJimmy Bannos Jr. segue a cartilha da família de cozinheiros e aproveita o porco por inteiro. Os clientes fazem fila na porta de seu restaurante para provar as carnes suínas frescas e curadas que ele mesmo prepara. Vários tipos de embutido, como mortadela, lardo e linguiça dividem o cardápio com porchetta e patê de porco.

AlineaO restaurante mais famoso da cidade tem a assinatura de Grant Achatz, que, anos atrás, teve câncer na língua e perdeu inteiramente o paladar. A recuperação durou cerca de um ano e hoje ele combina sabores como ninguém – tanto que é considerado o chef n°1 dos Estados Unidos. Conseguir um lugar ali não é fácil. As reservas são abertas de dois em dois meses e se esgotam em poucos minutos -- mesmo cobrando US$ 295 (cerca de R$ 740) por um menu. Eleito o 9º melhor restaurante segundo a revista britânica "Restaurant", o chef faz cozinha moderna com apresentação estonteante em um ambiente elegante.

Chicago French MarketMisto de mercado e praça de alimentação, ali é possível comprar frutas, peixes, queijos e bebidas para viagem ou sentar nas mesas disponíveis para saborear a comida vendida nos boxes concentrados no último corredor do salão. Tem hambúrgueres a sanduíches naturais, passando por crepes, sorvetes, cafés e doces. Um programa rápido, com comida boa e sem frescura.

Stan’s Donuts&CoffeeEsse é o lugar perfeito para tomar um café da manhã ou um lanche da tarde com cara de desenho animado americano. Com diversas cores e banhados de chocolate, amêndoas e confeitos coloridos, os donuts são acompanhados de cafés especiais gelados ou quentes. Vale experimentar o doce tradicional, recheado com creme de confeiteiro e açúcar, antes de se lambuzar com outras versões.

*A repórter viajou a convite da Choose Chicago e da United Airlines