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Cavalheirismo, machismo ou hábito: por que a conta vai sempre para o homem?

Fernanda Meneguetti

Do UOL, em São Paulo

21/05/2015 17h30

Um restaurante, uma mesa, um casal. O garçom e a carta de vinhos ou uma conta nas mãos. Para quem ele entrega o tal menu? Para quem vai a dolorosa? Sem pestanejar, para o homem. “É mais pelo respeito e pela tradição. É o homem que chama a mulher para sair, ele que a guia até o lugar e quase sempre é ele quem paga mesmo”, justifica o garçom Mariano da Silva.

De 2001 para cá, Mariano serviu o salão de italianos finos como o Fasano e o Due Cuochi, de bares movimentados como o Veríssimo e agora integra a brigada do recém-inaugurado Meating e diz que as poucas exceções que presencia são “casais novos, que dividem a conta, ou uma mulher em almoço de trabalho, que leva a nota para a empresa”.$escape.getH()uolbr_geraModulos('embed-foto','/2015/homem-mulher-e-a-conta-1432156617751.vm')

O testemunho do atendente poderia ser repetido à exaustão, e não somente por garçons. “Não é machismo, é o normal”, conclui Martín Seoane, um dos proprietários das casas portenhas Bárbaro e Che Bárbaro. “É assim no Brasil, na Argentina e em outros lugares do mundo”

“Na maioria dos restaurantes, mesmo no Noma, na Dinamarca (o melhor restaurante do mundo,  segundo a revista britânica "Restaurant"), a carta de vinhos e a conta vão diretamente para o homem. É o padrão. E alguns restaurantes ainda vão além: entregam o menu da mulher sem preço, somente com a descrição dos pratos. Acho curioso e educado, mas não essencial e nem machista”, avalia a chef Bruna Leite.$escape.getH()uolbr_geraModulos('embed-foto','/2015/homem-escolhe-o-vinho-1432158372597.vm')

Outras fronteiras
Dona da Gourmandisme at Home, Bruna estudou na Le Cordon Bleu de Paris e teve coragem de bater na porta de René Redzepi (então eleito o melhor chef do mundo) para pedir um estágio no Noma. “Uma vez na cozinha, a mulher fica inevitavelmente em desvantagem: você precisa levantar e transportar caixas pesadas, e aí não tem jeito: tem que pedir ajuda de algum homem”, revela.

Em contrapartida, emenda: “Lá você é tratada como igual, tão capaz quanto qualquer homem. Por aqui, já há um machismo maior, e às vezes um preconceito de que mulher tem que ir pra confeitaria”, afirma a cozinheira que hoje dá aula e cozinha em eventos privados, mas que já estagiou em restaurantes como o Vito e o D.O.M..

A conta, por favor
Se entregar a conta ao homem é senso comum, o salário inferior das mulheres também se mostra um fato em pesquisas no mundo todo. Considerando isso, Ricardo Horta, sócio do Ramona, acenou com uma pegadinha em seu restaurante a “The Unfair Menu” (ou menu injusto).

$escape.getH()uolbr_geraModulos('embed-foto','/2015/moca-vinho-e-menu-1432157503478.vm')Em março passado a casa enviou às mesas contas 30% mais caras aos homens do que às mulheres, refletindo a disparidade dos salários no Brasil. “A princípio, os clientes questionaram, mas ao saber que se tratava de uma pegadinha pela conscientização, não houve quem não apoiasse. Deu super certo”, relata Horta.

Já no que tange o sexismo diretamente relacionado aos restaurantes, o empresário diz: “Creio que está enraizada na mente das pessoas uma cultura em que o homem paga a conta, abre a porta, prova o vinho, puxa a cadeira e come o prato mais gorduroso. Uma mistura de machismo, cavalheirismo e hábito mesmo”.

Nesse sentido, garçons entregam conta, drinques e pratos robustos aos homens na tentativa de acertar. “Já presenciei pessoas que se irritam com algum tipo de preconceito no serviço, mas nunca por machismo. Na hora do erro, quem fica mais constrangido é quem está servindo”, opina o chef Jorge Augusto Ferreira, da Lilóri, que, em compensação, sente-se ofendido quando está “controlando as calorias” e pede salada, mas recebe a pizza de calabresa de sua companhia. A refletir.

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