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Raio gourmetizador atinge os drinques de boteco, que ganham versões chiques

Sergio Crusco

Do UOL, em São Paulo

04/07/2015 07h00

Já se foi o tempo em que pedir um Rabo de Galo podia ser mal visto pela turma gourmet. Não tenha medo de dar esse show de brejeirice na próxima rodada, pois agora é moda: os drinques de boteco estão de volta, chiques que só vendo, em bares e restaurantes sofisticados.

Quem já passou da fase de ficar alegre com Maria Mole, Porradinha, Bombeirinho ou o próprio Rabo de Galo nos botequins da juventude pode revisitar esses tragos clássicos com estilo em algumas casas de São Paulo, em preparos que privilegiam ingredientes nobres, naturalmente.

No restaurante contemporâneo Tuju, na Vila Madalena, os quatro coquetéis têm feito sucesso como aperitivo, embora o chefe de bar Danilo Monteiro conte que alguns clientes ainda olhem com reserva para eles. "Alguns perguntam se é verdade mesmo que temos Rabo de Galo na carta", diverte-se.

Entre as opções pop da casa, a Porradinha (originalmente pinga com refrigerante de limão) foi a que passou pela transformação gourmetizadora mais radical. O drinque é feito com vodca importada e uma espuma de limão siciliano que leva clara de ovo, jambu (a erva paraense que amortece a língua), água e açúcar.

Rabo de Galo, bar Frank - Rubens Kato/Divulgação - Rubens Kato/Divulgação
O Rabo de Galo do bar Frank, comandado pelo mixologista Spencer Jr., tem um toque de brasilidade
Imagem: Rubens Kato/Divulgação

O Bombeirinho (na versão pop, cachaça com groselha) vem com um xarope de romã caseiro aromatizado com a erva amazônica puxuri, de característica bem perfumada. A Maria Mole (conhaque com vermute) reaparece em traje de gala com brandy português Macieira e vermute branco italiano Carpano. O Rabo de Galo também leva Carpano, só que tinto, e a premiada cachaça Weber Haus, produzida no Rio Grande do Sul.

Mesmo em bares em que a temática não privilegia as cores e os sabores brasileiros, os drinques de "botecão" começam a fazer sucesso. No Frank, liderado pelo mixologista Spencer Jr. no hotel Maksoud Plaza, as estrelas são os drinques à base de bourbon, referência à bebida predileta de Frank Sinatra, que batiza o bar. 

Mas a brasilidade está presente na receita de Rabo de Galo, um pouco mais incrementada, com Weber Haus, vermute italiano Carpano Antica Formula, vermute francês Noilly Prat, um toque de bitter aromático da linha Zulú Bitters. E um gelo lapidado em forma de diamante para conferir nobreza ao drinque.

Bombeirinho, bar Beew - Divulgação - Divulgação
Já no bar Bee.W, o Bombeirinho leva cachaça brasileira e xarope de romã francês
Imagem: Divulgação

Quem quiser conhecer os drinques de boteco em sua versão original, sem gelo, vai encontrá-los no Bar Bee.W, anexo ao hostel de mesmo nome na região da Avenida Paulista. Além das caipirinhas gigantes, feitas para serem compartilhadas, a casa oferece diversas receitas de chupitos, shots famosos na Espanha, aqui recriados pelo bartender Gustavo Schneider.

Das receitas clássicas brasileiras, a única que sofreu leve ação do raio gourmetizador foi o Bombeirinho, que leva xarope francês Monin em vez da groselha.

Entre os shots menos conhecidos, o Bee.W apresenta o Disco Voador, que consiste em uma dose de cachaça e um pedaço de limão salpicado com açúcar e canela, para morder antes de beber. A moda é popular entre os estudantes do interior paulista, explica Gustavo, que tenta seduzir seus hóspedes estrangeiros com os nossos coquetéis de botequim.

"A primeira coisa que eles querem provar é sempre a caipirinha. Oferecemos os shots brasileiros, mas muita gente acaba achando um pouco forte", diz ele.