Cervejas

As afamadas trapistas: como degustar as cervejas feitas por monges

Cilene Saorin

Cilene Saorin

Colunista do UOL

As cervejas trapistas são variações de produção artesanal mantidas por monges dessa ordem religiosa desde a Idade Média. Merecidamente, têm uma enorme reputação e irrefutável qualidade, guardam tradição secular e, por isso, são muito conhecidas no mundo. Entretanto, nem sempre seus apreciadores têm completo entendimento sobre sua história e suas regras.

Para receber o direito de levar esse nome, uma cerveja trapista tem de atender a uma série de exigências, tais como: a cervejaria deve estar instalada dentro de um monastério trapista e suas cervejas devem ser produzidas pelas mãos de seus monges ou sob sua supervisão; as atividades da cervejaria devem ter importância secundária dentro do modo de vida monástico; a cervejaria não deve ter fins lucrativos, sendo suas receitas utilizadas para cobrir gastos de subsistência dos monges e manutenção das instalações fabris, e ainda para ajudar em trabalhos sociais e acalentar a comunidade carente; e, por fim, essas cervejarias devem receber monitoramento constante para assegurar a qualidade de suas cervejas.

Segundo Association Internationale Trappiste (AIT), com sede na Bélgica, até o início deste ano sete monastérios trapistas tinham suas cervejas reconhecidas com selo hexagonal Authentic Trappist Product presente em seus rótulos: Achel, Chimay, Orval, Rochefort, Westmalle e Westvleteren, na Bélgica, e ainda La Trappe, na Holanda. Recentemente dois outros monastérios, Mont des Cats, na França, e Engelszell Stift, na Áustria, entraram com o pedido junto à AIT para reconhecimento do selo oficial. Destes, o austríaco recebeu a concessão em outubro e sobre o francês ainda não há previsão.

Vale lembrar que o termo trapista não se refere ao estilo de cerveja, mas à denominação de origem. De fato, os monastérios trapistas produzem diferentes variações como, por exemplo, Dubbel, Tripel, Quadrupel, Strong Dark Ale, dentre outras. A grande maioria delas é de alta fermentação, muitas ainda com segunda fermentação em garrafa e grande capacidade de envelhecimento. Podem, assim, ser mantidas por anos. São exemplares muito potentes em força alcoólica e complexidade aromática, trazendo notas frutadas, condimentadas, florais, terrosas e, por vezes, tostadas. Seus sabores dependem da receita original, mas também da idade e da forma com que são guardadas suas garrafas, idealmente em adegas de 12º a 18ºC.

Por serem raridades, vale a pena dedicar especial atenção às taças, que devem ser bojudas como as de vinho tinto ou aquelas desenhadas pelos próprios monges cervejeiros, e também às temperaturas de degustação, nunca abaixo de 10ºC. São cuidados válidos para apreciar algumas das mais complexas e elegantes cervejas do mundo.

 
::FICHA TÉCNICA::
Chimay Blue

Produzida na Abadia de Notre-Dame de Scourmont na Bélgica, essa cerveja é das trapistas mais conhecidas. Apresenta cor castanho-escuro e complexidade em aromas frutados (lembrando frutas secas escuras, como ameixa e uva passa), tostados (lembrando caramelo e chocolate) e florais. Potente e encorpada com final de boca aveludado, são surpreendentes na gastronomia combinando muito bem com pratos igualmente potentes como carnes de caça e queijos azuis, por exemplo. Uma variação safrada que se apresenta em garrafas de 330ml (aqui nessa ficha técnica), 750ml (chamada Chimay Grande Resérve) ou 1,5l (chamada Chimay Grande Resérve Magnum).


País: Bélgica
Teor alcoólico: 9%
Volume: 330 ml
Preço: R$ 15,12
Estilo: Strong Dark Ale
Onde encontrar: www.beer4u.com.br

Cilene Saorin

Cilene Saorin é mestre cervejeira graduada pela Universidad Politécnica de Madrid- Escuela Superior de Cerveza y Malta. Com mais de 20 anos de profissão, atua como consultora, sommelier e é presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Cerveja.

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