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Vinho azul: a criação com que espanhóis tentam revolucionar mercado de bebidas

Produto foi desenvolvido por engenheiros químicos usando apenas ingredientes naturais - Gik Live
Produto foi desenvolvido por engenheiros químicos usando apenas ingredientes naturais Imagem: Gik Live

23/12/2016 08h10

Uma empresa espanhola está agitando a tradicionalíssima indústria do vinho no país com uma bebida no mínimo inusitada. O Gïk Blue mistura uvas roxas e brancas com pigmentos e aromatizantes orgânicos para obter um vinho doce e de um azul vibrante. Mas enquanto alguns levantam suas taças e celebram a novidade, outros torcem o nariz.

"O Gïk nasceu para ser algo divertido, uma bebida para dar uma agitada no mercado e ver o que acontece", afirma um de seus criadores, Aritz López. "Queríamos inovar e começar uma pequena revolução. E a indústria do vinho parecia o ponto de partida perfeito."

O único problema é que nem López nem ninguém em seu círculo eram viticultores experientes. O rapaz e seus sócios então recorreram a engenheiros químicos da Universidade do País Basco para criar um vinho azul que "faz uma fusão entre a natureza e a tecnologia". O processo durou dois anos.

Marketing da bebida se concentra nos "millennials", por meio das redes sociais - Divulgação/Gik Live - Divulgação/Gik Live
Marketing da bebida se concentra nos "millennials", por meio das redes sociais
Imagem: Divulgação/Gik Live

O Gïk é uma mistura de diferente variedades de uvas roxas e brancas com dois pigmentos orgânicos que tornam a bebida azul: a antocianina, retirada da casca da uva roxa, e a indigotina, uma substância orgânica normalmente utilizada como corante alimentar.

O sabor é então enriquecido com adoçantes não calóricos para criar um produto que é um cruzamento de vinho e coquetel, com um toque doce e levemente xaroposo.

Puristas x inovadores

Críticos rejeitaram a novidade como um 'antivinho', diante da tradicional indústria espanhola - Getty Images - Getty Images
Críticos rejeitaram a novidade como um "antivinho", diante da tradicional indústria espanhola
Imagem: Getty Images

"No início, as pessoas não acreditavam que estávamos vendendo vinho azul, mas quando provavam, adoravam e vinham pedir mais", conta Enrique Isasi, do Sushi Artist Madrid, um dos primeiros restaurantes da Espanha a oferecer o produto.

Mas nem todas as reações foram tão positivas. Alguns "puristas" disseram que o Gïk é uma blasfêmia e uma invenção terrível. Outros o compararam a um derivado "antivinho".

"O vinho é algo muito ligado à cultura espanhola", reconhece López. "É algo que não muda há séculos. Este é um país que prefere tradição à inovação. Mas o Gïk está tentando mudar isso. Nosso produto é perfeito para pessoas normais que não precisam conhecer mil regras para poder curtir uma taça de vinho."

Esse tipo de atitude parece mais revolucionária do que a própria bebida. Nas recomendações para a degustação do Gïk, seus criadores incluíram sugestões para servi-lo com macarrão à carbonara ou com tzatziki (entrada típica da culinária mediterrânea, à base de iogurte e pepinos) e indicam que o vinho seja saboreado tendo como fundo playlists que incluem bandas alternativas como Fryars e Minus the Bear.

Millennials na mira
Todos os criadores do Gïk têm menos de 30 anos e direcionam o grosso de seu marketing a pessoas como eles por meio das redes sociais. Parcerias com designers e DJs também ajudam a divulgar o produto, que é irreverente até em seu rótulo.

Mas, do ponto de vista de sustentabilidade, é difícil prever se o vinho azul vai conseguir sobreviver ou se é apenas uma novidade de millennials. O Gïk é atualmente vendido em 25 países e tem planos de entrar no mercado americano no ano que vem.

"Ainda não provei a bebida e, apesar de ser 'moderna', acho que hoje em dia as pessoas estão inclinadas a consumir produtos naturais, inalterados", opina Chad Walsh, sommelier do restaurante Agern, em Nova York.

"A tendência hoje é escolher vinhos que não tenham nada adicionado nem subtraído. Não acredito que esse vinho azul seja incluído em qualquer carta de vinhos que se preze. Mas não me espantará se encontrá-lo na geladeira de algum bar descolado", admite.