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Tradição ou modinha? Por que afinal, comemos peru no Natal?

Rafael Tonon

Colaboração para o UOL

22/12/2016 07h00


Chegou o Natal e é época de preparar aqueles pratos que não comemos em nenhuma outra época. E o peru talvez seja a maior expressão dessas comidas típicas natalinas que vão parar na nossa mesa apenas nas festas de final de ano.

Mas por que será que mesmo com tanta reclamação – “a carne é seca, insossa, sem graça” – e com dezenas de artimanhas para poder deixá-lo mais úmido e saboroso –“é só colocar manteiga sob a pele”, diria aquela tia - ano após ano, ele continua aparecendo nas nossas mesas?

Pois no caso do peru, que briga com o Chester ou Fiesta (os “superfrangos” que têm cerca de 70% do seu peso em coxas e peito) pelo posto de visita que só aparece mesmo no Natal, a tradição foi importada e convertida em uma estratégia de marketing por aqui, já que nós, no Brasil, nunca tivemos o hábito de comer a ave assada.

“A tradição de consumir peru no Natal foi uma influência dos americanos e europeus, que consomem a ave na ceia de Ação de Graças”, afirma Érica Migales, gerente de marketing da Sadia, empresa que comercializa a ave no Brasil. Nos EUA, a ave virou sinônimo dos jantares feitos na data: 88% dos americanos afirmam comer a ave no feriado de Ação de Graças, segundo pesquisa feita pela Federação Nacional do Peru.

Não se sabe ao certo quando o costume surgiu, mas pelo peru selvagem ser nativo da América do Norte e bastante abundante quando os colonos chegaram ao país, acredita-se que foi daí. E também do fato que um peru, pelo seu tamanho, é capaz de alimentar mais gente que outras aves – o que o faz perfeito para refeições com muita gente, como as ceias – a exemplo do jantar de Ação de Graças, mas também do Natal.

Com intensivas campanhas publicitárias em torno da ave (do termômetro que avisa quando está pronta até parceria com chefs de cozinha), o peru também acabou pegando por aqui. Mas muito mais direcionado como um produto de Natal. O consumo per capita da ave no país ainda é inferior a 1 quilo/habitante/ano, segundo informações da Abpa (Associação Brasileira de Proteína Animal).  Para se ter uma comparação, o frango passa dos 40 quilos/habitante/ano.

No Brasil, ao longo do resto do ano, peru quase nunca é consumido inteiro, como carne in natura, como é o caso do frango. Aqui, a ave quase sempre passa por alguma preparação: ele é vendido como patê ou fatiado, caso do peito de peru defumado, por exemplo e afins. A própria Abpa aposta em iniciativas para aumentar o consumo no restante do ano, com campanhas de divulgação. O setor também tenta como pode elevar a produção e o consumo de embutidos derivados da carne.

Coxa grossa
Fora de casa, nos restaurantes, a oferta também é pequena - é difícil encontrar pratos feitos com a ave, que perde na gastronomia para outras como pato, codorna e até para o raro faisão. Recentemente a rede de restaurantes Outback lançou em seu menu, por tempo limitado, a Colossal Turkey Leg, uma coxa de peru gigante de 700 gramas, que passou a ser servida nas 82 unidades em todo o Brasil, acompanhada de molho à base de mostarda, mel e pimenta vermelha. A ação de vendas durou entre os meses de outubro e novembro.

Paula Castellan, diretora de marketing do Outback Brasil, afirma que as vendas superaram as expectativas – a rede não divulga números nesse sentido. Mesmo assim, a rede não decidiu pelo peru como uma opção fixa do cardápio. “O produto foi um sucesso e sempre existe a possibilidade de trazê-lo de volta, mas, por enquanto, não temos planos para isso”, confessa.

A produção brasileira de peru foi de 327,1 mil toneladas em 2015, cerca de 500 toneladas a mais que a produção de 2014. Nesse ano, os dados ainda não foram divulgados. Desse montante, o país exportou 133 mil toneladas em 2015 – e está entre os três principais exportadores mundiais.

Como sempre no final do ano, os preços do peru sobem para o consumidor, uma tradição que também é mantida pela indústria há muito anos.