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Contêineres reformados são alternativa de moradia flexível e sustentável

Morar em um contêiner pode parecer sinônimo de viver confinado em um lugar quente e barulhento. Mas, com poucas intervenções, esses caixotes de metal se transformam em uma alternativa de moradia confortável, flexível e mais barata do que as casas de alvenaria tradicionais.

Existem dois tipos de contêineres mais comuns para habitação: de seis e de 12 metros de comprimento. O primeiro tem cerca de 15 metros quadrados, o segundo, 30 m². Todos são feitos de aço.

"Morar em um contêiner é uma atitude importante em termos de sustentabilidade. Combina com a tendência de as pessoas viverem em espaços cada vez menores e mais simples", afirma Eduardo Nardelli, professor de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Mas, para cumprir a meta "verde", a peça não pode ser nova, segundo Sasquia Obata, professora de arquitetura da Faap: "O aço é um recurso não renovável e consome muita energia para ser produzido. Se deixar de ser um objeto de reúso, vai gerar muito impacto na natureza".

O preço é outro atrativo: um contêiner custa entre R$ 3.000 e R$ 12 mil, dependendo do modelo –os refrigerados, usados para transportar alimentos, têm isolamento térmico e são mais caros.

O custo mais baixo foi um dos motivos que levaram a designer Patrícia Melo, 33, e seu marido, Vinicius Yagui, 33, moradores de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo), a optar por esse tipo de moradia, em 2010.

"Comprar um apartamento era inviável para a gente. Descobrimos essa opção em uma revista de decoração e vimos que era a chance de criar um imóvel do jeito que queríamos", conta Melo.

O casal comprou dois contêineres, um de seis e outro de 12 metros de comprimento. Pagaram em cada um, respectivamente, R$ 4.500 e R$ 6.500. No total, contando com a reforma do espaço, gastaram cerca de R$ 45 mil.

Para a designer, a decisão valeu a pena: "É pequeno e fácil de manter organizado. Tivemos que aprender a viver só com o necessário".

A flexibilidade da construção, com módulos que podem ser justapostos e empilhados, também é um dos pontos positivos. Segundo Nardelli, podem ser empilhadas no máximo quatro peças –mais do que isso, é preciso fazer um reforço estrutural de concreto.

INTERVENÇÕES

Não basta comprar um contêiner e simplesmente colocá-lo em um terreno. "O caixote pesa cerca de duas toneladas, tem que ter uma base estável para não afundar. É preciso fazer uma fundação rasa com laje de concreto", diz o arquiteto Daniel Kalil.

Depois da instalação, é hora de fazer as intervenções. A principal é colocar revestimentos termo-acústicos. O arquiteto recomenda que sejam usados materiais isolantes como lã de rocha.

É preciso, contudo, prestar atenção quanto à escolha dos pisos, explica Danilo Corbas, do escritório de arquitetura Container Box: "Eles devem ser maleáveis para suportar a movimentação natural da estrutura metálica, que se expande e contrai".

O arquiteto recomenda evitar pisos e revestimentos cimentícios, que podem rachar. Porcelanato e cerâmica, diz, estão liberados.

Ele mesmo vive em uma casa feita com quatro contêineres de 30 m² cada um, em Carapicuíba (Grande São Paulo). Cada módulo custou R$ 6.000.

"Morava em um apartamento e não sinto muita diferença entre os dois. Minha qualidade de vida aumentou muito", afirma.

A instalação de portas e janelas, com a ajuda de molduras, e a justaposição de módulos exigem que pedaços do contêiner sejam cortados. É fundamental reforçar a estrutura depois disso para que ela não ceda, diz Corbas.

Instalações elétricas e hidráulicas ficam aparentes, geralmente nas laterais, o que facilita a manutenção e vistoria do sistema, de acordo com Obata.

Existem lojas especializadas na venda de contêineres. Na hora da compra, é fundamental saber a procedência da peça, se foi higienizada corretamente e conferir seu estado de conservação.

"Os quatro cantos e as vigas não podem estar amassados. Se estiverem, é um sinal de que a peça sofreu danos", explica Lula Gouveia, arquiteto do SuperLimão, especialista em casa-contêiner.

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CAIXA FORTE
Saiba mais sobre as casas-contêineres

TAMANHO
Os contêineres usados como moradia têm basicamente dois tamanhos: 15 m² e 30 m², com seis e 12 metros de comprimento, respectivamente

ESTRUTURA
O exterior da caixa é feito de aço, o que a torna bastante resistente. O piso da área interna é feito de madeira –ele pode ser tratado e mantido ou trocado

CUSTO
Os preços, em média, variam entre R$ 3.000 e R$ 12 mil, dependendo do modelo. Contêineres refrigerados, que já têm revestimento térmico, são os mais caros

ADAPTAÇÕES
Para juntar dois ou mais contêineres e instalar janelas e portas, é preciso cortar paredes. A intervenção exige um reforço estrutural na caixa para que não ceda

PROTEÇÃO
Como o metal é condutor de correntes elétricas, é fundamental instalar para-raios no teto. Caso contrário, os moradores podem tomar choques ao encostar nas paredes

ORIGEM
É preciso saber a origem do contêiner e saber o que ele transportou antes de comprá-lo. A orientação é evitar os que tenham carregado materiais tóxicos

CONSERVAÇÃO
Os quatro cantos do caixote, seus elementos estruturais mais importantes, devem estar íntegros, formando um ângulo de 90 graus, para que permaneça estável

TEMPERATURA
O metal conduz calor e frio com facilidade. Por isso, é fundamental aplicar revestimentos térmicos na caixa. Fibras de vidro e lãs de rocha e pet são algumas opções

ILUMINAÇÃO
As instalações elétricas e hidráulicas costumam ficar aparentes, em tubulação própria para o uso externo. Desse modo, fica mais fácil fazer a manutenção

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