Eureka, cerveja!
O surgimento do pão costuma se confundir com a origem da própria civilização. Há cerca de 11 mil anos, quando os primeiros povos nômades, que viviam de caça e coleta e habitavam o Oriente Médio, começaram a plantar cevada e a fixar-se nas proximidades. Mas de acordo com os achados do arqueólogo Patrick McGovern, da universidade americana da Pensilvânia, a cerveja veio antes.
Onde hoje fica o Irã, McGovern encontrou jarros do período neolítico com traços de ácido tartárico, componente presente na bebida, muito anteriores aos artefatos usados para assar pão. No livro “Uncorking the Past: the Quest for Wine, Beer and Other Alcoholic Beverages” (sem tradução brasileira) ele sustenta que o objetivo dos primeiros agricultores era antes beber que comer. Com a criação da agricultura, vieram outras invenções com as quais não teríamos chegado ao que somos agora, como o arado, a tecelagem e a roda.
Nessa mesma vizinhança, então conhecida como Mesopotâmia (onde atualmente fica o Iraque), por volta dos quatro mil anos antes de Cristo, viviam os sumérios, outro povo que gostava de beber e de inventar. Eles criaram a primeira forma de escrita, conhecida como cuneiforme, e, graças a ela, fizeram os primeiros registros da produção de cerveja, segundo “O Livro da Cerveja”, de Tim Hampson. A necessidade de documentar a fabricação e distribuição da bebida era tamanha, que um dicionário sumério ancestral tem 160 palavras para designar “cerveja”, mais do que os esquimós para “gelo”.
Conforme o documentário “Como a Cerveja Salvou o Mundo”, do Discovery Channel, outro inventor que se beneficiou do apreço pela cerveja foi Louis Pasteur, no final do século 19. Tentando entender como uma cerveja pode estragar, ele foi o primeiro a enxergar as bactérias e concluir que elas poderiam fazer mal também aos humanos. Desse raciocínio, criou a teoria do germe e uma campanha para que médicos passassem a lavar as mãos entre um procedimento e outro.
Da pasteurização à automação
Depois foi a vez da cerveja se beneficiar do apreço de Pasteur. Além de permitir um melhor controle da fermentação devido ao seu estudo das leveduras, ele criou a pasteurização, processo que esteriliza o líquido através de aquecimento e resfriamento, permitindo que o chopp virasse cerveja e pudesse ter vida longa e ser transportada por grandes distâncias. Mesmo método hoje usado em diversos alimentos considerados longa vida.
A refrigeração foi outra invenção a contar com o empurrãozinho da cerveja. Também segundo o documentário, financiado pela indústria cervejeira, o alemão Carl Von Linde obteve a patente da sua máquina frigorífica à base de amônia, a primeira geladeira comercial do mundo. Instalada em uma cervejaria de Munique, a geringonça permitiu que a bebida do tipo Lager, que necessita de fermentação a temperaturas mais baixas, pudesse ser fabricada o ano todo e sem a necessidade de cercá-la de blocos de gelo. Para o inventor, a vantagem foi vender milhares de máquinas semelhantes com tamanho adaptado para uso doméstico.
Em 1914, quando a linha de produção da Ford deu à luz seu primeiro carro e começou a fazer a fama da automação, uma cervejaria americana já empregava este conceito há uma década. No livro “Michael Owens and the Glass Industry”, o professor de História Industrial Quentin R. Skrabec afirma que a pioneira da área, a máquina de fazer garrafas de vidro foi criada em 1904 para envasar cerveja, pelo mesmo inventor que, depois, criou uma máquina para encher as garrafas com cerveja e outra para tampá-las.
Assim, da próxima vez que você se vir disposto a atravessar a cidade para tomar uma cerveja, enfrentando trânsito, fila e sabe-se lá que outros desafios modernos, lembre-se que seus ancestrais ficariam orgulhosos. E sempre que disser que está com tanta sede que faria qualquer coisa por uma gelada, saiba que é sua herança genética quem está falando.
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