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Pastel no Nordeste e cordeiro no Sul, o que se come nas ceias brasileiras?

Rafael Mosna

Do UOL, em São Paulo

18/12/2013 17h24

Em Goiás, uma mesa de ceia natalina costuma ser (bem) caprichada. "Para mim, a maior memória e o que define não apenas o Natal, mas a mesa goiana como um todo, é a fartura desmedida, fruto de uma cultura de fazenda, com criação de porco, cordeiro, cabrito, peru...", diz a chef Letícia Massula.

Leticia conta que cada uma de suas tias era expert em um prato "e esse era o momento de brilhar e elevar às alturas o seu carro-chefe", brinca. "E cada um de nós tinha devoção por um preparo em especial que nunca faltava. Alguma das cozinheiras sempre se lembrava daquela preferência e garantia que não faltasse à mesa a salada de bacalhau que o Fulano ama ou a farofa favorita da Sicraninha..."

Ela elenca o que chama de "básico": peru assado, pernil de porco ou lombo, pernil de cabrito, saladas (bacalhau com grão de bico, lentilha, trigo em grão, verdes, tomate), farofas (em geral com miúdos de peru, frutas secas e castanhas), além de arroz com lentilha ou arroz de forno com frutas secas. 

Pensa que acabou? Uma mesa de frutas frescas e frutos secos e castanhas em geral, bem sortida, eram os acompanhamentos preferidos por sua família. No campo das sobremesas, as clássicas manjar de coco com calda de vinho, pudim de leite com raspinhas de laranja, pavê de biscoito champagne ou biscoito de maisena e rabanadas. 

Pastel no açúcar
Para o chef pernambucano Joca Pontes, do restaurante Ponte Nova, além do peru assado com farofa de passas e do tender com mel e fio de ovos, uma ceia típica de seu Estado não pode deixar de lado os pastéis de festa. "De sobremesa, bolo de rolo tradicional de goiabada servido com fatias de queijo do reino e filhoses, doce típico português adaptado à cozinha pernambucana, feito de uma massa --preparada com manteiga, ovos, fermento, trigo e água-- e frita em bolinhas servidas posteriormente com uma calda branca de açúcar com cravo."

Já no Rio de Janeiro, “uma característica da ceia de Natal é a presença obrigatória do bacalhau no cardápio. Ele pode aparecer em diferentes receitas, mas se não tiver algum prato de bacalhau, não será uma típica ceia de natalina", garante Nanda de Lamare, chef do restaurante Gula Gula. "Uma farofa mais caprichada também não pode faltar. Normalmente ela vem misturada com frutas secas, para dar mais crocância e combinar com os sabores natalinos."

A muitos quilômetros dali, Belém também se garantir com um prato à base de bacalhau. "Faz parte da tradição, ao lado do peru e do tender", conta Thiago Castanho, do restaurante Remanso do Bosque. “Lembro da época em que estávamos duros e meu pai comprou dois frangos assados e disse que estávamos passando dificuldades, mas o que importava é que a família estava muito mais unida. No ano seguinte, meu pai inaugurou o Remanso do Peixe e tudo começou a melhorar. Na noite de Natal, ele preparou bacalhau com leite de coco e a partir daquele ano o prato ficou marcado no Natal da família.”

Mix de culturas
No Rio Grande do Sul, como explica o chef Carlos Kristensen, do restaurante Hashi, a ceia de natal também incorporou costumes. "O peru assado trouxemos do dia de Ação de Graças dos norte-americanos. Também temos, é claro, o panetone de origem italiana e as rabanadas, o bacalhau e o bolo de reis com frutas secas dos portugueses. Somam-se o lombo de porco dos alemães e o tender e os assados de cordeiro típicos do Sul do país."

Como complementos, o chef destaca farofas doces e salgadas e as frutas secas ou frescas, nozes, amêndoas e castanhas. Não podem faltar purês de frutas e o arroz festivo e colorido, feito também de frutas e ainda guarnecido de legumes e passas.