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"A gente é a revolução": Mulheres contam como é trabalhar com cerveja

Juliana Simon

Do UOL

28/08/2017 07h00

Por trás de uma grande cerveja há cada vez mais mulheres! Seja na indústria, nas salas de aula ou nos bares, a presença delas neste mercado tem crescido.

O UOL conversou com quatro destaques femininos do universo cervejeiro que confirmam que lugar de mulher é nas mesas e brassagens, fazendo, bebendo e pensando a bebida alcoólica mais popular do mundo.

"A" confrade

Beatriz Ruiz - Divulgação/Ambev - Divulgação/Ambev
Imagem: Divulgação/Ambev
Gerente de conhecimento cervejeiro da Ambev, Beatriz Ruiz caiu neste universo meio sem querer. Formada em Letras e recém-saída de uma vaga em marketing, acabou conhecendo o mercado por pesquisas na internet.

"Comecei numa distribuidora e importadora. Fiz curso de sommelière, depois mestre em estilos e me apaixonei. Não consigo pensar em trabalhar com outra coisa. Sou apaixonada", diz.

Foi no dia a dia, lidando com clientes, que Bia começou a ver que a combinação cerveja e mulher nem sempre é respeitada. "Há cliente dando em cima, falta de respeito, gente duvidando do seu conhecimento, mas acho que hoje está melhor. E trabalhando na Ambev, onde a maior parte da equipe é de sommelières, tenho menos noção do que é enfrentar isso no trabalho", diz.

Porém, na hora de ir a um festival, visitar as microcervejarias ou beber a merecida cerveja no bar, Bia diz sentir alguns olhares tortos ainda.

Também criadora da Goose Island Sisterhood, Bia diz que a ideia de uma confraria feminina surgiu em 2015 e saiu do papel em 2017. "Chamei oito mulheres totalmente diferentes, cervejeiras, que trabalham com empoderamento feminino", diz.

Todo mês, elas se encontram para debater e fazer cerveja. "A gente é a revolução", diz Beatriz.

A mestre-cervejeira

Laura Aguiar - Divulgação/Ambev - Divulgação/Ambev
Imagem: Divulgação/Ambev
Engenheira de alimentos de Porto Alegre, Laura Aguiar caiu de amores pela cerveja... fazendo a bebida! Especialista em matérias-primas e processo de brassagem, também se formou sommelière.

Como Bia Ruiz, se sente privilegiada em trabalhar com outras mulheres e homens que reconhecem o valor das profissionais, mas fora da cervejaria é outra história. "Vivemos em uma sociedade machista e ainda vejo muitos comentários de quem ainda duvida que eu entendo de cerveja", diz.

Otimista, Laura acredita que o cenário para as cervejeiras está melhorando graças a mulheres que estão abrindo essa discussão e conquistando espaços no mercado, nas confrarias e, claro, nas mesas de bar. "É uma caminhada longa, mas vai gerar mudanças", afirma.

A caçadora de cervejas

Taiga Cazarine - Divulgação/WBeer - Divulgação/WBeer
Imagem: Divulgação/WBeer
Imagina viajar para conhecer e trazer para o Brasil as novidades cervejeiras? Esse é o trabalho de Taiga Cazarine, Beer Huntress da Wbeer. A vontade de trabalhar com cerveja é de família, que sempre gostou de se reunir e fazer festas.

Taiga afirma que caminho até o reconhecimento foi, sim, de obstáculos e machismo. Antes de partir para a caçada cervejeira, ela trabalhou em um bar de cervejas artesanais e passou por situações como cara feia de clientes ao solicitarem o sommelier da casa e se depararem com... uma sommelière!

"Alguns faziam questão de me fazer o máximo de perguntas, como uma espécie de teste, para saber se eu tinha conhecimento sobre tudo aquilo de fato", lembra.

A presença feminina cada vez mais forte nesse universo, para Taiga, é "uma porta para mostrar que homens e mulheres são capazes, porque, na verdade, nunca importou o gênero, mas, sim, a personalidade. Vejo muitas vantagens quando a pessoa se dedica, estuda e se compromete em sempre passar a informação real ao seu cliente/consumidor", diz.

A "multicervejeira"

Kathia Zanatta 2 - Alfredo Ferreira - Alfredo Ferreira
Imagem: Alfredo Ferreira
Kathia Zanatta é engenheira de alimentos, sommelière, mestre cervejeira e sócio-diretora do Instituto da Cerveja (ufa). Ela foi apresentada ao "amor cervejeiro" logo no início da faculdade e não demorou muito para conseguir um estágio de 10 meses na Cervejaria Paulaner, em Munique (Alemanha).

"Encontrei alguns poucos cervejeiros antigos, um pouco machistas, que tentaram dificultar a minha vida. Por outro lado, meu chefe direto e outros membros importantes da cervejaria me estimulavam e apoiavam", lembra. De volta ao Brasil, desta vez na antiga Schincariol (hoje Heineken), Kathia também enfrentou algumas "caras feias". "Mas, novamente, isso me fez mais forte. Construí minha carreira e fui conquistando a confiança e o respeito dos meus colegas de trabalho e, posteriormente, alunos", diz.

O segredo para seguir em frente? "Keep calm" e mantenha o humor. "Hoje tento também levar algumas ‘indiretas’ de forma mais descontraída e com respostas às vezes bem-humoradas, acabo deixando a outra pessoa desconcertada", diz.

"Acho que para qualquer profissão e para a vida, a diversidade é a resposta. Diversidade de gêneros, raças, origens, idades, experiências", afirma.

Frequentemente citada como "inspiração cervejeira" por colegas e alunos, Kathia defende a conquista das mulheres no mercado da bebida. "Precisamos nos unir, dar forças umas às outras, buscar conhecimento e executá-lo, com competência e coração. Certamente, isso inspirará outras mulheres deste e de outros setores a seguirem seus caminhos", acredita.