Sempre gostei de comida de boteco. E daqueles bares autênticos, que peão frequenta e a sua mãe tem medo. Eu devia ter uns 15 anos quando um amigo abriu um bar na rua Guaicurus, na Lapa, em São Paulo.

Me lembro que toda semana eu pegava minha bicicleta e saía do meu bairro, a Pompéia, e ia para lá. Ali, tomei meus primeiros drinques do nível do rabo de galo (popular receita a base de cachaça e vermute), no meio da tarde, com o pessoal das obras vizinhas.

Comi muitos torresmos, gordos, que hoje enfartariam só de olhar. Aprendi a comer PF e sabia quais eram os pratos feitos de cada dia da semana. Eu, realmente, experimentava de tudo.

Eis que um dia vejo um novo salgado no balcão de um bar. Ovo empanado? Vamos ver no que dá! Foi paixão à primeira mordida. Eu me perguntava como um simples ovo poderia ser algo tão fantástico.

A partir deste dia, passei a caçar bolovo –nome técnico da iguaria- em todo e qualquer boteco por onde eu passava. Várias versões depois, com diferentes jeitos de empanar e descobri um feito com meio ovo e recheio de carne.

Uma vez cheguei a ver um com Catupiry que me ganhou de imediato. Me arrependo até hoje de não ter anotado a receita deste bolovo que seduziu meu paladar. Crocante por fora, massa cremosa e saborosa. Outro dia, encontrei o amigo que era dono do boteco que o servia, mas ele não sabia mais a receita. Para a minha tristeza, na verdade, ele mal se lembrava que fazia bolovo.

Como a minha saga pelos bares não tem fim, recentemente, estive em um boteco na Zona Norte da capital paulista e, para minha surpresa, tinha bolovo. E em versão moderna: ovo de codorna empanado com linguiça do tipo Blumenau. Era saboroso, interessante.

Mas devo confessar meu apego emocional ao tradicional. Fato que me fez constatar, com certa tristeza, que quase não existem mais bolovos por aí. E me deu uma vontade de sair, agora mesmo, em busca de um igual ao dos meus tempos de menino. Como o daquele do boteco da rua Guaicurus.